Quando eu estava na 6ª série, na aula de Educação Artística, produzimos fantoches de papel machê. Os mais bonitinhos iriam para a apresentação de uma peça de teatro, no fim do bimestre. O meu boneco não ficou um exemplo de boniteza, mas eu queria muto participar daquela peça. Então, fui escolhido!
O meu papel? Eu era o Arauto. Ensaiamos uma fábula durante o inverno e no início da primavera seria nossa apresentação. Foi no audidório da escola, para um super público de pouco mais de 100 crianças do jardim e primeiros anos. Não lembro muito da peça nem das minhas falas. Mas lembro que tinha uma passagem assim: "Olá, eu sou o Arauto e venho trazer notícias do reino."
Passadas 17 primaveras, a palavra Arauto voltou a fazer parte da minha história. Nesta segunda-feira, 26 de setembro, realizei a primeira matéria pelo Jornal Arauto, na cidade de Vera Cruz. Agora, quando me perguntam o que sou e o que faço, impossível não lembrar da aula de Educação Artística. Sempre vou pensar em dizer: "eu sou o Arauto e venho trazer notícias do reino."
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
CAVANHAQUE X LUZES: UMA NOVA MODALIDADE DA GUERRA DOS SEXOS
Eduardo se olhou no espelho e notou que a barba estava grande. Pensou em desenhar um cavanhaque, mas antes disso, resolveu consultar seu irmão mais velho. "Cavanhaque com ou sem bigode, Zé?". Sem tirar os olhos da TV, ele responde lá da sala: "Se o bigode emenda com a parte de baixo, deixa. Senão, deixa só a parte de baixo". Mesmo sem emendar o bigode no queixo, Eduardo deixou a barba ao redor de toda a boca.
Enquanto isso, no outro canto da cidade, a Mônica fez luzes no cabelo para o encontro com o quase namorado, o Eduardo. Uma olhada no espelho, uma mexida no cabelo, uma última conferida. Os dois se encontraram, então, à noite, no centro da cidade, num restaurante. A Mônica de luzes, e Eduardo de cavanhaque. Ela, com a auto-estima lá em cima em função do cabelo "novo". Ele, se achando o cara mais macho do mundo com aquele cavanhaque.
Ao se encontrarem, a Mônica notou o cavanhaque do Eduardo instantaneamente. "E essa barbicha?". Um beijo para a saudação. "Ui, isso pinica", reclamou ela. Ele se chateou, afinal, o cavanhaque era um investimento estético, mas a moça não gostou. A moça, aliás, passava a mão nos cabelos, mexia-os, na esperança que o pretendente notasse as luzes feitas na mesma tarde do encontro. O cabelo ainda exalava o cheiro dos produtos do salão de beleza.
"Não notou nada?", indaga ela. "Perfume novo?", experimenta ele. "Não!", exclama ela, já nervosa. "Então não sei", diz ele indiferente. Silêncio. "Tu não notou que fiz luzes no cabelo?", protesta Mônica. Agora foi a vez dela se chatear. Afinal, as luzes eram um investimento estético e o moço não notou. "Tu também não gostou do meu cavanhaque", responde Eduardo. Mais silêncio. O casal perdeu o clima, jantaram e foram para as suas respectivas casas.
Cavanhaque não foi feito para agradar mulheres. Luzes não chamam atenção de homens. A grande maioria dos homens não presta atenção em luzes. Duvido que alguma mulher goste de cavanhaque, barba ou bigode. Os homens deixam esses pelos crescerem para demonstrar a masculinidade perante os outros homens. Da mesma forma, as mulheres se enfeitam para exibir a beleza para outras mulheres.
Eduardo raspou o cavanhaque e não sabe dizer o que a Mônica tem feito ultimamente no cabelo. Só sabe que está na altura dos ombros.
Enquanto isso, no outro canto da cidade, a Mônica fez luzes no cabelo para o encontro com o quase namorado, o Eduardo. Uma olhada no espelho, uma mexida no cabelo, uma última conferida. Os dois se encontraram, então, à noite, no centro da cidade, num restaurante. A Mônica de luzes, e Eduardo de cavanhaque. Ela, com a auto-estima lá em cima em função do cabelo "novo". Ele, se achando o cara mais macho do mundo com aquele cavanhaque.
Ao se encontrarem, a Mônica notou o cavanhaque do Eduardo instantaneamente. "E essa barbicha?". Um beijo para a saudação. "Ui, isso pinica", reclamou ela. Ele se chateou, afinal, o cavanhaque era um investimento estético, mas a moça não gostou. A moça, aliás, passava a mão nos cabelos, mexia-os, na esperança que o pretendente notasse as luzes feitas na mesma tarde do encontro. O cabelo ainda exalava o cheiro dos produtos do salão de beleza.
"Não notou nada?", indaga ela. "Perfume novo?", experimenta ele. "Não!", exclama ela, já nervosa. "Então não sei", diz ele indiferente. Silêncio. "Tu não notou que fiz luzes no cabelo?", protesta Mônica. Agora foi a vez dela se chatear. Afinal, as luzes eram um investimento estético e o moço não notou. "Tu também não gostou do meu cavanhaque", responde Eduardo. Mais silêncio. O casal perdeu o clima, jantaram e foram para as suas respectivas casas.
Cavanhaque não foi feito para agradar mulheres. Luzes não chamam atenção de homens. A grande maioria dos homens não presta atenção em luzes. Duvido que alguma mulher goste de cavanhaque, barba ou bigode. Os homens deixam esses pelos crescerem para demonstrar a masculinidade perante os outros homens. Da mesma forma, as mulheres se enfeitam para exibir a beleza para outras mulheres.
Eduardo raspou o cavanhaque e não sabe dizer o que a Mônica tem feito ultimamente no cabelo. Só sabe que está na altura dos ombros.
domingo, 18 de setembro de 2011
O GAÚCHO E A MODA
O meu pai dizia que o gauchismo e as coisas que envolvem essa tradição não saem de moda. Lamentavelmente meu velho estava errado. Lembro que um dia eu comentei que certo tipo de bombacha não se usava mais. Meio negligente, ele me respondeu: "Deixa de ser bobo, guri. Esse tipo de coisa não sai de moda. Bombacha é bombacha e sempre vai ser bombacha."
Não é bem assim. Quem frequenta CTG e gosta do meio tradicionalista/nativista sabe que não é. Há uns dez anos atrás, o estilo de bombacha era aquela bem larga (mas bem larga mesmo!). Hoje, quem vai a um fandango com um bombachão daqueles corre o risco de sofrer bulin. O que vale é a bombacha castelhana mais estreita, de brim. Alguns gaúchos parecem que estão embalados a vácuo.
E não é só com a bombacha, não. Com a música também é assim. Há dez anos, ainda se comprava disco de conjunto de baile, estilo tradicionalista. Hoje se compra (se é que se compra) disco de cantores nativistas. O troço foi de Gildo de Freitas a Monarcas. Tudo fora de moda. Agora o que faz sucesso é Marcelo Oliveira, Joca Martins.
Outro exemplo do modismo dentro do gauchismo? A bota. Há dez anos tinha um estilo de bota que tinha um cano mais largo, preso bem perto do joelho, com tentos de couro. Agora, só o que se vê são as botas amarelas, com cano justo. Mais um: as prendas. Antigamente, o vestido era muito armado e hoje é quase sem armação. Reto como um cano PVC.
Até na dança gaúcha a moda tá presente. Sim, está sim (ou alguém dança o ultrapassado 2 X 1? ). Quem gosta de dançar valsa? O lenço também mudou. Era vermelho, com as pontas na altura do umbigo. Agora tá colorido e com as pontas bem curtas. Agora, os piás inventaram uma moda ridícula de virar o lenço pra trás. A boina mudou, o chapéu mudou, a camisa mudou. Tudo mudou em dez anos nos costumes do gaúcho.
Alguns pesquisadores podem dizer que isso é um ciclo cultural. Folcloristas dizem que de 20 em 20 anos surge um novo movimento cultural. Passamos do Regionalismo para o Tradicionalismo, depois para o Nativismo. Agora volta a palavra Regionalismo, mas em um sentido um pouco diferente daquele primeiro. Em meio a isso tudo, muda a indumentária e a dança, por exemplo.
Meu pai estava errado. A moda impera em meio à tradição também. Será que um dia as possibilidades de se esgotarão? Há interesses por trás dessa moda? Independente disso, tomara que nos próximos dez anos a moda não abocanhe o nosso mapa Riograndense. Já pensou a próxima geração dizendo: "Ser gaúcho está fora de moda!". Aí será demais!
Não é bem assim. Quem frequenta CTG e gosta do meio tradicionalista/nativista sabe que não é. Há uns dez anos atrás, o estilo de bombacha era aquela bem larga (mas bem larga mesmo!). Hoje, quem vai a um fandango com um bombachão daqueles corre o risco de sofrer bulin. O que vale é a bombacha castelhana mais estreita, de brim. Alguns gaúchos parecem que estão embalados a vácuo.
E não é só com a bombacha, não. Com a música também é assim. Há dez anos, ainda se comprava disco de conjunto de baile, estilo tradicionalista. Hoje se compra (se é que se compra) disco de cantores nativistas. O troço foi de Gildo de Freitas a Monarcas. Tudo fora de moda. Agora o que faz sucesso é Marcelo Oliveira, Joca Martins.
Outro exemplo do modismo dentro do gauchismo? A bota. Há dez anos tinha um estilo de bota que tinha um cano mais largo, preso bem perto do joelho, com tentos de couro. Agora, só o que se vê são as botas amarelas, com cano justo. Mais um: as prendas. Antigamente, o vestido era muito armado e hoje é quase sem armação. Reto como um cano PVC.
Até na dança gaúcha a moda tá presente. Sim, está sim (ou alguém dança o ultrapassado 2 X 1? ). Quem gosta de dançar valsa? O lenço também mudou. Era vermelho, com as pontas na altura do umbigo. Agora tá colorido e com as pontas bem curtas. Agora, os piás inventaram uma moda ridícula de virar o lenço pra trás. A boina mudou, o chapéu mudou, a camisa mudou. Tudo mudou em dez anos nos costumes do gaúcho.
Alguns pesquisadores podem dizer que isso é um ciclo cultural. Folcloristas dizem que de 20 em 20 anos surge um novo movimento cultural. Passamos do Regionalismo para o Tradicionalismo, depois para o Nativismo. Agora volta a palavra Regionalismo, mas em um sentido um pouco diferente daquele primeiro. Em meio a isso tudo, muda a indumentária e a dança, por exemplo.
Meu pai estava errado. A moda impera em meio à tradição também. Será que um dia as possibilidades de se esgotarão? Há interesses por trás dessa moda? Independente disso, tomara que nos próximos dez anos a moda não abocanhe o nosso mapa Riograndense. Já pensou a próxima geração dizendo: "Ser gaúcho está fora de moda!". Aí será demais!
domingo, 21 de agosto de 2011
CERTIFIQUE-SE DE QUE O FOGO ESTÁ APAGADO ANTES DE DORMIR
Ontem fiz um fogo na lareira. Depois de assistir um bom filme, fui me deitar. O frio fez com que o sono viesse rápido. Eis que, enquanto dormia, uma tora grossa ainda em brasa, rolou de dentro da lareira (não sei como) e caiu em cima de uma saco de gravetos, que estava próximo. Perto desse saco havia outro toco. Prendeu fogo em tudo.
Eu tenho o sono muito pesado, mas não sei que força sobrenatural me acordou. Eram barulhos como tapas na lareira, feita de lata. No início, pensei que fosse o próprio material da lareira trabalhando com a variação de temperatura. Não dei muita bola. Na segunda vez que ocorreu o barulho, cheguei a pensar que fosse alguém que estivesse dentro de casa. Na terceira, tive certeza que alguma coisa estava acontecendo na sala.
Ao sentir o cheiro de fumaça, o sinal de alerta instintivo soou. Levantei e a casa tava tomada em fumaça. Mais alguns minutos, pegava fogo em toda a sala - sem contar a fumaça, que já tava no quarto (no torpor do sono e da fumaça... poderia ter morrido asfixiado). Ainda bem que me acordei (ou alguém, ou alguma coisa me acordou).
Que cagaço! Na rua fazia -1ºC (com o vento, a sensação térmica chegou a -10ºC) e eu de cueca e meias, apagando o fogo de bacia e com as janelas da casa todas abertas. Ao jogar água no fogo (agora de chão), me perguntava como aquela tora (de 20cm de espessura e 50cm de comprimento) foi sair de dentro da lareira e, se estava no chão, o que produzia aquelas batidas na lareira que me fez despertar?
Dessas respostas não saberei. Mas,do pior jeito, aprendi duas lições: 1º) Apagar o fogo e certificar-me que está realmente apagado. 2º) Não deixar nenhum tipo de material inflamável perto da lareira. Fica a dica pra todos.
Eu tenho o sono muito pesado, mas não sei que força sobrenatural me acordou. Eram barulhos como tapas na lareira, feita de lata. No início, pensei que fosse o próprio material da lareira trabalhando com a variação de temperatura. Não dei muita bola. Na segunda vez que ocorreu o barulho, cheguei a pensar que fosse alguém que estivesse dentro de casa. Na terceira, tive certeza que alguma coisa estava acontecendo na sala.
Ao sentir o cheiro de fumaça, o sinal de alerta instintivo soou. Levantei e a casa tava tomada em fumaça. Mais alguns minutos, pegava fogo em toda a sala - sem contar a fumaça, que já tava no quarto (no torpor do sono e da fumaça... poderia ter morrido asfixiado). Ainda bem que me acordei (ou alguém, ou alguma coisa me acordou).
Que cagaço! Na rua fazia -1ºC (com o vento, a sensação térmica chegou a -10ºC) e eu de cueca e meias, apagando o fogo de bacia e com as janelas da casa todas abertas. Ao jogar água no fogo (agora de chão), me perguntava como aquela tora (de 20cm de espessura e 50cm de comprimento) foi sair de dentro da lareira e, se estava no chão, o que produzia aquelas batidas na lareira que me fez despertar?
Dessas respostas não saberei. Mas,do pior jeito, aprendi duas lições: 1º) Apagar o fogo e certificar-me que está realmente apagado. 2º) Não deixar nenhum tipo de material inflamável perto da lareira. Fica a dica pra todos.
domingo, 7 de agosto de 2011
A TRISTE MORTE DO CEBINHO NO PÉ DE ARAÇÁ
Hoje acordei com o cantar dos pássaros. Parecia que o papai Sabiá tinha levado a família para passear no belo domingo de sol. É bonito ver a felicidade desses bichos soltos por aí... O canto deles era tão intenso, que pareciam querer me dizer alguma coisa com aquela cantoria toda. A "algazarra", me causou um sorriso tímido e me fez refletir "De onde será que veio essa bicharada? Onde moram? O que faziam por aqui?"
Chegamos a um arvoredo, que ficava há uns cem metros da minha casa. Os passarinhos faziam festa lá, em meio a laranjeiras, bergamoteiras e caqueiros. Eu fui o primeiro a atirar. Tiro certeiro foi debaixo de um pé de araçá: Schhhhplac! O golpe foi na cabeça e bicho caiu como uma peteca aos pés da gurizada. "É um cebinho!" - gritou um.
Agarrei a pequena ave na mão. Estava quente, ainda vivo, mas não resistiria; aquele bichinho delicado de uns seis centímetros morreria em poucos segundos. Enquanto mini ave agonizava na minha mão, eu pensava: "Tá, e o que eu faço com esse bicho? É assim que é uma caçada de passarinho? Matar o bicho só pra praticar o tiro em alvos vivos em movimento?"
Atirei o pobre cebinho inerte no chão (e não tinha nenhum gato pra comer aquele passarinho!). Segui a caçada e errei todos os tiros de propósito. Depois fui embora, alegando uma dor de barriga. Ao chagar em casa, o remorso era secreto, mas duro. "De onde vinha aquele pobre cebinho naquela hora? Onde era o seu ninho? Por que ele tinha que estar ali? Queria ele apenas matar a fome com um doce araçá?".
Nunca saberei destas respostas, mas soube que interrompi sua jornada terrena com um covarde golpe de pedra na cabeça pelo simples prazer de acertar um alvo. Soube que, a partir daquele dia, nunca mais usaria o estilingue para matar nenhum passarinho. Soube que não são os passarinhos que devem ser alvos dos humanos. Aprendi que os ouvidos humanos são alvos de seu delicado canto. Na manhã deste domingo, tive certeza disso.
O ESTILIGUE: A arma do crime |
Estas mesmas perguntas, me fiz há 18 anos atrás, quando matei meu primeiro e único passarinho. Eu tinha 11 anos e produzi meu próprio bodoque (ou estilingue, ou funda... como queiram). Todos os meninos da vizinhança tinham aquela arma com base de forquilha de madeira (preferencialmente de pitangueira ou goiabeira), com borracha amarela e "casinha" de couro.
Geralmente, usava minha funda pra praticar tiro ao alvo em potes plásticos e cabeças de mourões - e até que não era ruim de mira. Mas um certo dia, alguns guris da vila combinaram uma caçada de passarinho. Eu nunca tinha ido pra uma caçada de passarinho. "Vamos, então" - disse, meio inseguro. Um deles ainda completou: "Ele tá de funda nova!"
Matar pra quê? |
Agarrei a pequena ave na mão. Estava quente, ainda vivo, mas não resistiria; aquele bichinho delicado de uns seis centímetros morreria em poucos segundos. Enquanto mini ave agonizava na minha mão, eu pensava: "Tá, e o que eu faço com esse bicho? É assim que é uma caçada de passarinho? Matar o bicho só pra praticar o tiro em alvos vivos em movimento?"
Atirei o pobre cebinho inerte no chão (e não tinha nenhum gato pra comer aquele passarinho!). Segui a caçada e errei todos os tiros de propósito. Depois fui embora, alegando uma dor de barriga. Ao chagar em casa, o remorso era secreto, mas duro. "De onde vinha aquele pobre cebinho naquela hora? Onde era o seu ninho? Por que ele tinha que estar ali? Queria ele apenas matar a fome com um doce araçá?".
Nunca saberei destas respostas, mas soube que interrompi sua jornada terrena com um covarde golpe de pedra na cabeça pelo simples prazer de acertar um alvo. Soube que, a partir daquele dia, nunca mais usaria o estilingue para matar nenhum passarinho. Soube que não são os passarinhos que devem ser alvos dos humanos. Aprendi que os ouvidos humanos são alvos de seu delicado canto. Na manhã deste domingo, tive certeza disso.
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
O SABÃO E O GAÚCHO
Muitas das histórias postadas neste blog não são minhas. São histórias que me contam e eu só reproduzo aqui. É o caso da história que envolve um casal de amigos, um sabão em barra (não muito cheiroso) e um gaúcho invocado.
Me contou uma amiga que ela e o marido faziam as compras do mês no supermercado no fim de tarde de uma sexta-feira. Um em cada ponta da prateleira. Ela na secção de utensílios domésticos e ele na secção dos produtos de limpeza Há uns oito metros um do outro. Prestativo, o marido pergunta alto:
- Tem que levar sabão, né? Qual eu levo?
- Pode ser o Sabão Gaúcho - responde a esposa com outro grito.
Para alguns, o cheiro do Sabão Gaúcho lembra um pouco o odor de fezes humanas. Foi o que pensou Luiz, ao cheirar o sabão. A impressão veio acompanhada de uma careta e da exclamação:
- Credo, mas esse gaúcho deve tá cagado! - disse ele.
Luiz não imaginava é que havia um bombachudo no outro lado da prateleira. Num instante, o guasca fez a volta e, indignado, se faz de desentendido:
- Quem é o cagado aqui, tchê? - disse ele com a mão na daga de prata que estava presa à guiaca.
Silêncio por alguns segundos. Luiz se explicou mas não convenceu. O gaúcho aceitou as desculpas, mas não as engoliu as explicações. Cada vez que eles se cruzam na rua, Luiz jura que estava falando do sabão... naquele desastroso fim de tarde de compras no supermercado.
Me contou uma amiga que ela e o marido faziam as compras do mês no supermercado no fim de tarde de uma sexta-feira. Um em cada ponta da prateleira. Ela na secção de utensílios domésticos e ele na secção dos produtos de limpeza Há uns oito metros um do outro. Prestativo, o marido pergunta alto:
- Tem que levar sabão, né? Qual eu levo?
- Pode ser o Sabão Gaúcho - responde a esposa com outro grito.
Para alguns, o cheiro do Sabão Gaúcho lembra um pouco o odor de fezes humanas. Foi o que pensou Luiz, ao cheirar o sabão. A impressão veio acompanhada de uma careta e da exclamação:
- Credo, mas esse gaúcho deve tá cagado! - disse ele.
Luiz não imaginava é que havia um bombachudo no outro lado da prateleira. Num instante, o guasca fez a volta e, indignado, se faz de desentendido:
- Quem é o cagado aqui, tchê? - disse ele com a mão na daga de prata que estava presa à guiaca.
Silêncio por alguns segundos. Luiz se explicou mas não convenceu. O gaúcho aceitou as desculpas, mas não as engoliu as explicações. Cada vez que eles se cruzam na rua, Luiz jura que estava falando do sabão... naquele desastroso fim de tarde de compras no supermercado.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
INSÔNIA
Telejornal, internet, redes sócias, sono.
Banho, escova de dente, cama. Pensamentos, agenda, planos, preocupação. Compromissos, agenda, planos.
Angústia.
Pensamentos, agenda, planos, preocupação.
Fome. Sanduíche, suco. Escova de dente, cama. Pensamentos, agenda, planos, angústia.
Promessas.
Latidos, raiva. Cozinha, banheiro, cama. Pensamentos, agenda, planos, angústia.
Pensamentos, planos, promessas...
Pensamentos.
Pensamentos.
Pensamentos...
Pensammmennn...ZZzzzZZzzzz
Banho, escova de dente, cama. Pensamentos, agenda, planos, preocupação. Compromissos, agenda, planos.
Angústia.
Pensamentos, agenda, planos, preocupação.
Fome. Sanduíche, suco. Escova de dente, cama. Pensamentos, agenda, planos, angústia.
Promessas.
Latidos, raiva. Cozinha, banheiro, cama. Pensamentos, agenda, planos, angústia.
Pensamentos, planos, promessas...
Pensamentos.
Pensamentos.
Pensamentos...
Pensammmennn...ZZzzzZZzzzz
quarta-feira, 1 de junho de 2011
A PRIMEIRA FUMACINHA
Nos invernos da infância, me divertia com o vapor que saía da boca, formado pela diferença entre a temperatura corpórea e a ambiental. Mesmo não gostando do frio, brincava com a fumacinha. Imitava adultos fumando, me fingia de Super-Homem (com seus superpoderes de congelamento através do bafo), embaçava o espelho pra depois desenhar nele… e por aí vai. Cada início da temporada de frio, me lembro daquela época.
Hoje, com os 9 graus às 7h da manhã, saiu a primeira fumacinha do ano. Ao por o fucinho pra fora, o frio foi impactante. Respirei fundo aquele oxigênio gelado, soltei o ar carregado de gás carbônico e a surpresa: o bafo condensado embaçou até a visão. Nesse momento, me recordei com saudades das nostalgias de guri, do Super-Homem, do espelho… A fumacinha se formou e logo se dissipou. Dá vontade de fazer de novo. Repira fundo e…. fuuuu!! Se forma e se dissipa instantaneamente. Como se as lembranças se transformassem em ar condensado e se desintegrasse em menos de um segundo.
Aquela fumacinha da infância não volta mais. Continuo não gostando do frio. Definitivamente, o inverno não me agrada. Tem quem goste, mas eu não! Mas, o que realmente me agrada é lembrar daquele tempo. Se o frio não é tão bom assim para alguns, o legal, entre outras coisas, são as lembranças que ele me traz.
Hoje, com os 9 graus às 7h da manhã, saiu a primeira fumacinha do ano. Ao por o fucinho pra fora, o frio foi impactante. Respirei fundo aquele oxigênio gelado, soltei o ar carregado de gás carbônico e a surpresa: o bafo condensado embaçou até a visão. Nesse momento, me recordei com saudades das nostalgias de guri, do Super-Homem, do espelho… A fumacinha se formou e logo se dissipou. Dá vontade de fazer de novo. Repira fundo e…. fuuuu!! Se forma e se dissipa instantaneamente. Como se as lembranças se transformassem em ar condensado e se desintegrasse em menos de um segundo.
Aquela fumacinha da infância não volta mais. Continuo não gostando do frio. Definitivamente, o inverno não me agrada. Tem quem goste, mas eu não! Mas, o que realmente me agrada é lembrar daquele tempo. Se o frio não é tão bom assim para alguns, o legal, entre outras coisas, são as lembranças que ele me traz.
terça-feira, 24 de maio de 2011
A PSICOLOGIA DA GELADEIRA E DO REFRIGERANTE
Preciso comprar uma geladeira nova. A minha está mais para usina de energia do que para geladeira. Barulho pouco é bobagem. Parece aquelas geladeiras antigas. Falando nisso, esse eletrodoméstico me remete à infância. Quando eu era guri, a minha referência para me tornar adulto era ser maior que a geladeira.
Quando alcancei a altura do congelador, pensei: "agora falta alguns centímetros pra eu ser atulto". Para minha decepção, as geladeiras ficaram cada vez mais altas. Quando finalmente consegui ultrapassar a altura da Cônsul azul, veio outra mais alta. Que coisa! Parece que um sonho foi ceifado!
A mesma coisa acontecia com o refrigerante: "o dia que eu coseguir servir o refrigerante com uma mão só, vai ser a fronteira entre a infância e a vida adulta". Até treinava com uma garrafinha KS, imaginado ser um litro grande (naquele tempo, eram garrafas de vidro, de 1 litro apenas). Para minha decepção, de novo, as garrafas de refrigerante estão cada vez maiores e mais difíceis de servir com uma mão. Já tem Pepsi de 3,3 litros (daqui uns dias vem refri em caminhão pipa!).
As geladeiras e os refrigerantes gigantes me impediram de ser um adulto completamente realizado. Mexeram com a minha auto-estima . Uma coisa muito séria, um trauma da infância provocado pela ganância dos fabricantes. Tive de fazer um tratamento com um psicólogo pra recuperar meu EU original. Sabe o que ele sugeriu? "Compre um frigobar e ponha garrafinhas KS de refri. Afinal, você tem que deixar claro quem manda em casa".
Tá certo!
Quando alcancei a altura do congelador, pensei: "agora falta alguns centímetros pra eu ser atulto". Para minha decepção, as geladeiras ficaram cada vez mais altas. Quando finalmente consegui ultrapassar a altura da Cônsul azul, veio outra mais alta. Que coisa! Parece que um sonho foi ceifado!
A mesma coisa acontecia com o refrigerante: "o dia que eu coseguir servir o refrigerante com uma mão só, vai ser a fronteira entre a infância e a vida adulta". Até treinava com uma garrafinha KS, imaginado ser um litro grande (naquele tempo, eram garrafas de vidro, de 1 litro apenas). Para minha decepção, de novo, as garrafas de refrigerante estão cada vez maiores e mais difíceis de servir com uma mão. Já tem Pepsi de 3,3 litros (daqui uns dias vem refri em caminhão pipa!).
As geladeiras e os refrigerantes gigantes me impediram de ser um adulto completamente realizado. Mexeram com a minha auto-estima . Uma coisa muito séria, um trauma da infância provocado pela ganância dos fabricantes. Tive de fazer um tratamento com um psicólogo pra recuperar meu EU original. Sabe o que ele sugeriu? "Compre um frigobar e ponha garrafinhas KS de refri. Afinal, você tem que deixar claro quem manda em casa".
Tá certo!
quarta-feira, 20 de abril de 2011
MANUAL DE INSTRUÇÕES DE COLOCAÇÃO DE ABSORVENTE INTERNO
Eu sou daquelas pessoas que se fosse analfabeta, raramente iria no banheiro. É incrível como a gente se "distrai" lendo alguma coisa enquanto... bem, enquanto o corpo se encarrega de fazer o "serviço". Quando não tem jornal, vai revista velha. Quando não tem revista, vale rótulo de desinfetante, xampu, cremes de beleza... qualquer coisa, desde que esteja lendo.
Já pesquei várias informações importantes nesse momento, como: "O triclosan, encontrado em sabonetes, loções e cremes dentais, é um agente anti-séptico efetivo contra bactérias eficaz também contra fungos e bolores. Evita mau hálito e chulé". Outra: "a naftalina é oriunda do petróleo" - o dia que descobri isso, lembrei que em países de língua espanhola, a gasolina é chamada de nafta. Interessante, não?
Pois bem. Já li quase todas as palavras contidas no meu banheiro (disse quase todas!). Esses dias, imaginei que não houvesse mais nada para ser consumido pelos olhos de forma inédita. Será que teria de rever o filme do "rótulo do desinfetante"? Nada disso. Abri a gaveta do bidezinho e meus olhos brilharam quando avistei uma coisa que ainda não tinha lido: bula de absorvente feminino (ou manual de instruções, como queiram).
Tem muitas coisas interessantes lá, outras bem engraçadas. É lógico que o fabricante deve detalhar as instruções de uso, mas tem algumas informações que só foram parar lá por acidente na hora de colocar. Vamos ao Manual de Instruções de Colocação de Absorvente Interno - MICAI.
Depois de retirar o produto da embalagem, teste a cordinha (alguma vez o Intimus Gel ficou preso lá dentro? deve ser brabo retirá-lo "cheio" e sem cordinha).
Escolha uma posição confortável (sim, alguma mulher já deve ter deixado o absorvente em pé na cama, veio correndo e sentou em cima).
Empurre o absorvente de maneira delicada. Seu dedo indicador deve penetrar completamente no interior da vagina, deixando a cordinha pra fora (não seja "gulosa"! A cordinha não precisa! E lembre que o produto pode ficar preso lá dentro depois de "encher").
ATENÇÃO: O Intimus Gel não lhe trará nenhum desconforto. Caso haja algum incômodo, é porque está mal colocado. Nesse caso, relaxe, goze e tente novamente.
Para retirar, puxe a cordinha cor-de-rosa (foi importante não ser "gulosa". Ela tem uma utilidade fantástica). É natural encontrar uma certa resistência, afinal o produto está cheio. Após o uso, descarte o absorvente (a não ser que seja sua primeira menstruação. Nesse caso, guarde-o como recordação - na gaveta das calcinhas pra dar sorte).
MITOS E VERDADES:
1 - Sou virgem. Posso usar absorvente interno? Depende do tamanho do buraco. A virgindade não é impedimento para usar absorvente interno. Mas se sentir algum tipo de dor, seu hímen já era. Procure um ginecologista para reconstituí-lo.
2 - O absorvente interno pode se perder dentro do meu corpo? Depende do tamanho do buraco. Ahhh... lembra da cordinha cor-de-rosa? Pois é.
3 - Como devo escolher o absorvente interno ideal pra mim? Cada mulher tem um fluxo menstrual diferente. O Intimus desenvolveu 3 opções que se adaptam a você: Mini, Médio e Super. Consulte um ginecologista. (Mas tudo depende do tamanho do buraco).
Já pesquei várias informações importantes nesse momento, como: "O triclosan, encontrado em sabonetes, loções e cremes dentais, é um agente anti-séptico efetivo contra bactérias eficaz também contra fungos e bolores. Evita mau hálito e chulé". Outra: "a naftalina é oriunda do petróleo" - o dia que descobri isso, lembrei que em países de língua espanhola, a gasolina é chamada de nafta. Interessante, não?
Pois bem. Já li quase todas as palavras contidas no meu banheiro (disse quase todas!). Esses dias, imaginei que não houvesse mais nada para ser consumido pelos olhos de forma inédita. Será que teria de rever o filme do "rótulo do desinfetante"? Nada disso. Abri a gaveta do bidezinho e meus olhos brilharam quando avistei uma coisa que ainda não tinha lido: bula de absorvente feminino (ou manual de instruções, como queiram).
Tem muitas coisas interessantes lá, outras bem engraçadas. É lógico que o fabricante deve detalhar as instruções de uso, mas tem algumas informações que só foram parar lá por acidente na hora de colocar. Vamos ao Manual de Instruções de Colocação de Absorvente Interno - MICAI.
Depois de retirar o produto da embalagem, teste a cordinha (alguma vez o Intimus Gel ficou preso lá dentro? deve ser brabo retirá-lo "cheio" e sem cordinha).
Escolha uma posição confortável (sim, alguma mulher já deve ter deixado o absorvente em pé na cama, veio correndo e sentou em cima).
Empurre o absorvente de maneira delicada. Seu dedo indicador deve penetrar completamente no interior da vagina, deixando a cordinha pra fora (não seja "gulosa"! A cordinha não precisa! E lembre que o produto pode ficar preso lá dentro depois de "encher").
ATENÇÃO: O Intimus Gel não lhe trará nenhum desconforto. Caso haja algum incômodo, é porque está mal colocado. Nesse caso, relaxe, goze e tente novamente.
Para retirar, puxe a cordinha cor-de-rosa (foi importante não ser "gulosa". Ela tem uma utilidade fantástica). É natural encontrar uma certa resistência, afinal o produto está cheio. Após o uso, descarte o absorvente (a não ser que seja sua primeira menstruação. Nesse caso, guarde-o como recordação - na gaveta das calcinhas pra dar sorte).
MITOS E VERDADES:
1 - Sou virgem. Posso usar absorvente interno? Depende do tamanho do buraco. A virgindade não é impedimento para usar absorvente interno. Mas se sentir algum tipo de dor, seu hímen já era. Procure um ginecologista para reconstituí-lo.
2 - O absorvente interno pode se perder dentro do meu corpo? Depende do tamanho do buraco. Ahhh... lembra da cordinha cor-de-rosa? Pois é.
3 - Como devo escolher o absorvente interno ideal pra mim? Cada mulher tem um fluxo menstrual diferente. O Intimus desenvolveu 3 opções que se adaptam a você: Mini, Médio e Super. Consulte um ginecologista. (Mas tudo depende do tamanho do buraco).
sábado, 19 de março de 2011
HISTÓRIAS, PECULIARIDADES E DESASTRES DA VIDA DE REPÓRTER (I)
Numa tarde abafada de sexta-feira, me desloquei até a Paróquia para entrevistar o Padre Jolimar. Ele foi o responsável por uma campanha de arrecadação para vítimas da enchente da cidade de São Lourenço. Deixei o carro estacionado há 20 metros dali e sai de peito inflado em busca do pároco.
Em frente a Casa dos Padres, o movimento já era grande. Um caminhão com mais de 700kg em doações esperava a benção para seguir para São Lourenço. Muita gente em volta - entre as pessoas, dona Gilda (velha conhecida, amiga da minha madrinha).
Ela me chamou e eu subi quatro degraus para cumprimentá-la, pois ela estava de braços abertos, como se estivesse me chamando. "Olá, Dona Gilda! Tudo bem?" Ao chegar perto dessa gentil senhora, percebi que aquilo não era apenas um cumprimento, mas um aviso. Em forma de sussurro, bem próximo ao meu ouvido, ela me respondeu:
"Tudo bem sim, mas o teu zíper tá aberto!"
Em frente a Casa dos Padres, o movimento já era grande. Um caminhão com mais de 700kg em doações esperava a benção para seguir para São Lourenço. Muita gente em volta - entre as pessoas, dona Gilda (velha conhecida, amiga da minha madrinha).
Ela me chamou e eu subi quatro degraus para cumprimentá-la, pois ela estava de braços abertos, como se estivesse me chamando. "Olá, Dona Gilda! Tudo bem?" Ao chegar perto dessa gentil senhora, percebi que aquilo não era apenas um cumprimento, mas um aviso. Em forma de sussurro, bem próximo ao meu ouvido, ela me respondeu:
"Tudo bem sim, mas o teu zíper tá aberto!"
domingo, 27 de fevereiro de 2011
A CUIA ESCOLHE O DONO
Decididamente eu não sou supersticioso! Nenhum pouquinho! Não acredito em horóscopo, nem em simpatias, nem em qualquer tipo de previsão, olho gordo.... nada disso! Mas tem coisas que o ditado popular nos faz pensar: "Como foi que isso aconteceu?".
Certa feita, um velho sábio encruzilhadense me disse: "Uma cuia de chimarrão a gente não escolhe. Ela é que te escolhe". As palavras não foram muito muito bem assimiladas num primeiro momento, mas eu nunca mais as esqueci.
Essa afirmação se confirmou quando eu adquiri minha primeira cuia. Estava num mercado com um amigo e quem queria comprar cuia era ele. Achei uma bem interessante: redondinha, tamanho pequeno-médio, porongo de 5mm de espessura.
- Tá aí - disse pra ele. Achei a tua cuia!
- Não gostei muito. Achei melhor essa outra aqui, óh - reponde.
- Não trouxe dinheiro agora. Então vou esconder ela aqui atrás da prateleira, que depois venho buscar ela pra mim. Já que tu não gostou, vou ficar com ela.
- Não. Bota junto nas minhas coisas, depois me paga.
- Ok.
De tanto que gostei daquela cuia, ganhei ela como presente, não precisei ressarci-lo. Foram vários mates nela. Uns cinco anos mais tarde,.a cuia encerrou seu ciclo. Primeiro, teve um pedaço quebrado - mas ainda conseguia usá-la. Dias depois, foi roubada.
Passei 14 meses procurando uma cuia igual: 12cm de altura, 10mm de largura; base milimetricamente redonda e pescoço levemente apertado.Nada. Revirei todas as bancas do Mercado Público de Porto Alegre (eu disse todas!). Acabei comprando uma meio parecida, mas com um biquinho no talo do porongo.
Segui nos mates diários na nova cuia. Um belo dia de sol, estava passeando pelo superpátio (quase um sítio) da minha irmã e achei um pé de porongo no barranco. Surpresa: havia uma bela cuia em potencial ali. Estava quase na hora de colhê-la. Resolvi levá-la ainda verde. O porongo foi amadurecido, cortado, lixado por dentro e curtido.
Daria ele, pronto para o uso, pra minha irmã - afinal, era de propriedade dela. Mas o presente foi esquecido no fundo de um armário. Numa tarde fria de um agosto, precisei de uma cuia emprestada (a minha tinha ficado com erva há três dias e estava "azeda"). Pedi aquela cuia esquecida no armário.
Simpatizei com ela e fiz usucapião. Desde então, meus mates são só dela.
Aquele senhor tinha razão: "a cuia é que encontra o dono" e não o contrário. Se você sair atrás dela, você não vai encontrá-la. A cumplicidade é reforçada nas horas de mate. Os apaixonados pelo chimarrão sabem que é assim. Mas isso, creio, que não tem a ver com superstição.
Certa feita, um velho sábio encruzilhadense me disse: "Uma cuia de chimarrão a gente não escolhe. Ela é que te escolhe". As palavras não foram muito muito bem assimiladas num primeiro momento, mas eu nunca mais as esqueci.
Essa afirmação se confirmou quando eu adquiri minha primeira cuia. Estava num mercado com um amigo e quem queria comprar cuia era ele. Achei uma bem interessante: redondinha, tamanho pequeno-médio, porongo de 5mm de espessura.
- Tá aí - disse pra ele. Achei a tua cuia!
- Não gostei muito. Achei melhor essa outra aqui, óh - reponde.
- Não trouxe dinheiro agora. Então vou esconder ela aqui atrás da prateleira, que depois venho buscar ela pra mim. Já que tu não gostou, vou ficar com ela.
- Não. Bota junto nas minhas coisas, depois me paga.
- Ok.
De tanto que gostei daquela cuia, ganhei ela como presente, não precisei ressarci-lo. Foram vários mates nela. Uns cinco anos mais tarde,.a cuia encerrou seu ciclo. Primeiro, teve um pedaço quebrado - mas ainda conseguia usá-la. Dias depois, foi roubada.
Passei 14 meses procurando uma cuia igual: 12cm de altura, 10mm de largura; base milimetricamente redonda e pescoço levemente apertado.Nada. Revirei todas as bancas do Mercado Público de Porto Alegre (eu disse todas!). Acabei comprando uma meio parecida, mas com um biquinho no talo do porongo.
Um dia, a cuia ideal vai te encontrar |
Daria ele, pronto para o uso, pra minha irmã - afinal, era de propriedade dela. Mas o presente foi esquecido no fundo de um armário. Numa tarde fria de um agosto, precisei de uma cuia emprestada (a minha tinha ficado com erva há três dias e estava "azeda"). Pedi aquela cuia esquecida no armário.
Simpatizei com ela e fiz usucapião. Desde então, meus mates são só dela.
Aquele senhor tinha razão: "a cuia é que encontra o dono" e não o contrário. Se você sair atrás dela, você não vai encontrá-la. A cumplicidade é reforçada nas horas de mate. Os apaixonados pelo chimarrão sabem que é assim. Mas isso, creio, que não tem a ver com superstição.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
O RESGATE DE JOHN
John é um cachorro tímido. Na casa da minha irmã, onde ele mora, os outros cães sempre festejam a chegada dos donos e visitas dos mais próximos. John, não. Ficava na dele. Até vinha ver quem tinha chegado, mas sem muita extravagância.
No fim da manhã do dia 13 de janeiro, tive de ir até a casa da minha irmã, mandar arquivo por email. Não havia ninguém em casa e percebi que a cachorrada latia desesperadamente. Depois de mandar o email, fui ver o que acontecia lá na rua. Os cães latiam lá em baixo, descendo o barranco, perto da tela.
Estavam lá o Roth (um rothwailler), o Pitoco e o Dunga (linguiças) e a Tuca (raça indefinida). E o John? Havia dois dias que John tinha desaparecido misteriosamente. Pensei que ele havia morrido e os seus companheiros estavam me avisando. Realmente era um aviso, mas não de morte. John havia caída numa fossa de sete metros de fundura. Eu estava sem celular. Era hora do almoço, mas eu abriria mão da refeição para salvá-lo.
E agora? Como tirá-lo de lá? Procurei uma escada e uma corda. Porém, a corda era muito fina e a escada muito curta. Enquanto pensava em uma solução para o resgate, o amigo tímido grunhia e a uivava, pedindo pressa. Lembrei que tinha uma extensão de fio elétrico no porta-malas do carro. Fiz uma laçada e tchan: consegui laçar o cão pelas patas traseiras. Faltava puxá-lo de lá (essa foi a pior parte).
Nunca pensei que um Pastor Alemão pudesse pesar tanto quando suspenso. Depois de cinco minutos, com o animal de cabeça para baixo, eu ainda não havia conseguido retirá-lo da fossa. O fio se enviava para dentro da terra do barranco e dificultava ainda mais o resgate. John se desesperava, mas sabia, de algum modo, que aquilo era uma ajuda e não maus tratos.
Passei a corda na cintura e gastei o que ainda me restava de energia. Os músculos tremiam com a força e o fio deixava vergões que virariam ematomas na parte lateral e superior do fêmur. Amarrei o fio num moeirão e puxei John mais perto do buraco. John estava imundo.
O fedor da fossa me fez perder o que ainda me restava de apetite, mas não pude deixar de dar cinco palmadinhas amigas na lateral da cabeça do bicho sujo e fedido e exclamar: "Aeeee, garooooto! Tá tudo bem agora!".
Na verdade, ainda não estava. John precisa de água e comida. Bebeu e comeu a vontade, depois me olhou com ares de agradecimento. Agradece até hoje. Depois daquela feita, cada vez que chego na casa da minha irmã, ele é o primeiro a me receber, com uma faceirice de guri.
Naquele resgate, perdi o almoço e machuquei o quadril. Mas ganhei um coração canino de eterna gratidão. Valeu a pena! Eu poderia ter voltado pra casa e chamado os bombeiros. Mas o sentimento de compaixão pelo ser canino me dizia que não havia tempo suficiente. John entendeu assim também.
No fim da manhã do dia 13 de janeiro, tive de ir até a casa da minha irmã, mandar arquivo por email. Não havia ninguém em casa e percebi que a cachorrada latia desesperadamente. Depois de mandar o email, fui ver o que acontecia lá na rua. Os cães latiam lá em baixo, descendo o barranco, perto da tela.
Estavam lá o Roth (um rothwailler), o Pitoco e o Dunga (linguiças) e a Tuca (raça indefinida). E o John? Havia dois dias que John tinha desaparecido misteriosamente. Pensei que ele havia morrido e os seus companheiros estavam me avisando. Realmente era um aviso, mas não de morte. John havia caída numa fossa de sete metros de fundura. Eu estava sem celular. Era hora do almoço, mas eu abriria mão da refeição para salvá-lo.
E agora? Como tirá-lo de lá? Procurei uma escada e uma corda. Porém, a corda era muito fina e a escada muito curta. Enquanto pensava em uma solução para o resgate, o amigo tímido grunhia e a uivava, pedindo pressa. Lembrei que tinha uma extensão de fio elétrico no porta-malas do carro. Fiz uma laçada e tchan: consegui laçar o cão pelas patas traseiras. Faltava puxá-lo de lá (essa foi a pior parte).
Nunca pensei que um Pastor Alemão pudesse pesar tanto quando suspenso. Depois de cinco minutos, com o animal de cabeça para baixo, eu ainda não havia conseguido retirá-lo da fossa. O fio se enviava para dentro da terra do barranco e dificultava ainda mais o resgate. John se desesperava, mas sabia, de algum modo, que aquilo era uma ajuda e não maus tratos.
Passei a corda na cintura e gastei o que ainda me restava de energia. Os músculos tremiam com a força e o fio deixava vergões que virariam ematomas na parte lateral e superior do fêmur. Amarrei o fio num moeirão e puxei John mais perto do buraco. John estava imundo.
O fedor da fossa me fez perder o que ainda me restava de apetite, mas não pude deixar de dar cinco palmadinhas amigas na lateral da cabeça do bicho sujo e fedido e exclamar: "Aeeee, garooooto! Tá tudo bem agora!".
Na verdade, ainda não estava. John precisa de água e comida. Bebeu e comeu a vontade, depois me olhou com ares de agradecimento. Agradece até hoje. Depois daquela feita, cada vez que chego na casa da minha irmã, ele é o primeiro a me receber, com uma faceirice de guri.
Naquele resgate, perdi o almoço e machuquei o quadril. Mas ganhei um coração canino de eterna gratidão. Valeu a pena! Eu poderia ter voltado pra casa e chamado os bombeiros. Mas o sentimento de compaixão pelo ser canino me dizia que não havia tempo suficiente. John entendeu assim também.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
BIG BROTHER BRASIL, ÉRICO VERÍSSIMO E OBVIEDADE
Estou lendo Incidente em Antares, do Érico Veríssimo. Pra algum desavisado, um clássico da literatura. O autor fala muito da conjuntura política do Brasil. Isso é muito interessante para conhecermos o tronco político do país e entendermos a atual situação dos partidos. Conta, por exemplo, sobre o(s) período(s) em que Getúlio Vargas esteve no poder; do seu suicídio e da sucessão com Janio Quadros e João Goulart.
Mergulhado nas páginas de Veríssimo, nem percebi a TV ligada e sintonizada na Globo. Ao levantar a cabeça para recuperar o fôlego, me dei conta que estava passando o Big Brothe Brasil. Duas "heroínas" do programa (é assim que o apresentador denomina os participantes) estavam vestidas de macaco e faziam micagens toda vez que tocava certa música.
Ao olhar a cena deprimente, lembrei que vi em algum intervalo que há um paredão, onde sai um Brother (ou uma Sister) pela votação do público. Alguém acredita nessa votação? Eu não! Por quê? Porque o BBB em sua onzézima edição está tão óbvio quanto um episódio do Chapolin Colorado. Vejamos:
Um dos participantes que disputa permanência na casa é o jornalista Lucival. Conforme pequenos fragmentos que acompanhei do programa, o rapaz tem tendências homossexuais (não tenho nada contra, já explico porque) e vive tricotando com outro gay da casa, Daniel. Portanto, com a possibilidade de sair o primeiro beijo gay do BBB e pela permanência das fofocas, Lucival não sai.
A outra emparedada, Daiana, também com tendências homossexuais, também deve ficar pela mesma razão de Lucival. Sobra a última emparedada, Natália, a mais desprovida de "atrativos", que deve sair - semana que vem, podem me cobrar. BBB é sempre assim.: depois da primeira edição, ficou previsível.
Isso tudo porque o Brasil quer espetáculo a qualquer custo. Fazendo parte de um barraco, um beijo gay ou cena de sexo, o Brother ou Sister está garantido(a) no programa, pelo menos a curto prazo (ai está a explicação que prometi). Portanto, uma coisa lógica. A produção do programa sabe disso e, provavelmente, conduz as saídas de participantes.
Voltei às páginas das histórias e estórias nada óbvias de Veríssimo. Mais uma vez, o BBB me chamou atenção. Eram alguns homens transvestidos e desfilando como mulheres. Confirmei a opinião do parágrafo acima.
O BBB, que nunca foi algo intelectualmente construtivo, está se tornando cada vez mais óbvio! E nesse caso, obviedade significa chatiche. E chatice, significa perda de audiência. Não entendo como os anunciantes investem nesse tipo de coisa. Ou melhor, entendo sim, como já disse - mas não concordo. Prefiro as páginas que me contem "estórias verdadeiras" da política do meu país (e sem obviedade).
Mergulhado nas páginas de Veríssimo, nem percebi a TV ligada e sintonizada na Globo. Ao levantar a cabeça para recuperar o fôlego, me dei conta que estava passando o Big Brothe Brasil. Duas "heroínas" do programa (é assim que o apresentador denomina os participantes) estavam vestidas de macaco e faziam micagens toda vez que tocava certa música.
Ao olhar a cena deprimente, lembrei que vi em algum intervalo que há um paredão, onde sai um Brother (ou uma Sister) pela votação do público. Alguém acredita nessa votação? Eu não! Por quê? Porque o BBB em sua onzézima edição está tão óbvio quanto um episódio do Chapolin Colorado. Vejamos:
Um dos participantes que disputa permanência na casa é o jornalista Lucival. Conforme pequenos fragmentos que acompanhei do programa, o rapaz tem tendências homossexuais (não tenho nada contra, já explico porque) e vive tricotando com outro gay da casa, Daniel. Portanto, com a possibilidade de sair o primeiro beijo gay do BBB e pela permanência das fofocas, Lucival não sai.
A outra emparedada, Daiana, também com tendências homossexuais, também deve ficar pela mesma razão de Lucival. Sobra a última emparedada, Natália, a mais desprovida de "atrativos", que deve sair - semana que vem, podem me cobrar. BBB é sempre assim.: depois da primeira edição, ficou previsível.
Isso tudo porque o Brasil quer espetáculo a qualquer custo. Fazendo parte de um barraco, um beijo gay ou cena de sexo, o Brother ou Sister está garantido(a) no programa, pelo menos a curto prazo (ai está a explicação que prometi). Portanto, uma coisa lógica. A produção do programa sabe disso e, provavelmente, conduz as saídas de participantes.
Voltei às páginas das histórias e estórias nada óbvias de Veríssimo. Mais uma vez, o BBB me chamou atenção. Eram alguns homens transvestidos e desfilando como mulheres. Confirmei a opinião do parágrafo acima.
O BBB, que nunca foi algo intelectualmente construtivo, está se tornando cada vez mais óbvio! E nesse caso, obviedade significa chatiche. E chatice, significa perda de audiência. Não entendo como os anunciantes investem nesse tipo de coisa. Ou melhor, entendo sim, como já disse - mas não concordo. Prefiro as páginas que me contem "estórias verdadeiras" da política do meu país (e sem obviedade).
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