domingo, 27 de fevereiro de 2011

A CUIA ESCOLHE O DONO

Decididamente eu não sou supersticioso! Nenhum pouquinho! Não acredito em horóscopo, nem em simpatias, nem em qualquer tipo de previsão, olho gordo.... nada disso! Mas tem coisas que o ditado popular nos faz pensar: "Como foi que isso aconteceu?".

Certa feita, um velho sábio encruzilhadense me disse: "Uma cuia de chimarrão a gente não escolhe. Ela é que te escolhe". As palavras não foram muito muito bem assimiladas num primeiro momento, mas eu nunca mais as esqueci.

Essa afirmação se confirmou quando eu adquiri minha primeira cuia. Estava num mercado com um amigo e quem queria comprar cuia era ele. Achei uma bem interessante: redondinha, tamanho pequeno-médio, porongo de 5mm de espessura.

- Tá aí - disse pra ele. Achei a tua cuia!
- Não  gostei muito. Achei melhor essa outra aqui, óh - reponde.
- Não trouxe dinheiro agora. Então vou esconder ela aqui atrás da prateleira, que depois venho buscar ela pra mim. Já que tu não gostou, vou ficar com ela.
- Não. Bota junto nas minhas coisas, depois me paga.
- Ok.

De tanto que gostei daquela cuia, ganhei ela como presente, não precisei ressarci-lo. Foram vários mates nela. Uns cinco anos mais tarde,.a cuia encerrou seu ciclo. Primeiro, teve um pedaço quebrado - mas ainda conseguia usá-la. Dias depois, foi roubada.

Passei 14 meses procurando uma cuia igual: 12cm de altura, 10mm de largura; base milimetricamente redonda e pescoço levemente apertado.Nada. Revirei todas as bancas do Mercado Público de Porto Alegre (eu disse todas!). Acabei comprando uma meio parecida, mas com um biquinho no talo do porongo.

Um dia, a cuia ideal vai te encontrar

Segui nos mates diários na nova cuia. Um belo dia de sol, estava passeando pelo superpátio (quase um sítio) da minha irmã e achei um pé de porongo no barranco. Surpresa: havia uma bela cuia em potencial ali. Estava quase na hora de colhê-la. Resolvi levá-la ainda verde. O porongo foi amadurecido, cortado, lixado por dentro e curtido.

Daria ele, pronto para o uso, pra minha irmã - afinal, era de propriedade dela. Mas o presente foi esquecido no fundo de um armário. Numa tarde fria de um agosto, precisei de uma cuia emprestada (a minha tinha ficado com erva há três dias e estava "azeda"). Pedi aquela cuia esquecida no armário.

Simpatizei com ela e fiz usucapião. Desde então, meus mates são só dela.

Aquele senhor tinha razão: "a cuia é que encontra o dono" e não o contrário. Se você sair atrás dela, você não vai encontrá-la. A cumplicidade é reforçada nas horas de mate. Os apaixonados pelo chimarrão sabem que é assim. Mas isso, creio, que não tem a ver com superstição.

2 comentários:

  1. Grande Urgel!! Posso te dizer que também já aconteceu comigo. Há 05 anos, meu chefe pediu pra ir fazer uma coleta de água em Venâncio Aires, não era minha função, no começo até disse não, mas como não tinha outra pessoa, como bom Encruzilhadense, não sou de refugar. Tinha que percorrer o interior de V.A. coletando água no Arroio Castelhano, como eu não conhecia o trajeto tive o auxílio de funcionário da Secretaria de Meio Ambiente, tive que aguardá-lo durante algumas horas. A Secretaria em V.A. fica junto à rodoviária e lá tem algumas lojas, fui então dar uma "olhada" pra passar o tempo, pra minha surpresa depois de procurar a cuia ideal(pra mim é claro, cada um tem sua cuia) por muitas lojas especializadas, perguntei pra Sra. da loja se ela tinha algum outro modelo, ela me respondeu que tinha uma, .."mas era bem antiga e estava encalhada na loja", quando ela me trouxe..
    era a cuia que eu procurava.

    um grande abraço do amigo,

    Guigui

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  2. oi Urgel, tambem nao sou supersticiosa , mas tem coisas que ninguem explica .
    De qualquer maneira tuas cronicas são sempre interessantes e gostosas de ler
    um abraço

    Zelia

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