segunda-feira, 26 de setembro de 2011

"EU SOU O ARAUTO"

Quando eu estava na 6ª série, na aula de Educação Artística, produzimos fantoches de papel machê. Os mais bonitinhos iriam para a apresentação de uma peça de teatro, no fim do bimestre. O meu boneco não ficou  um exemplo de boniteza, mas eu queria muto participar daquela peça. Então, fui escolhido!


O meu papel? Eu era o Arauto. Ensaiamos uma fábula durante o inverno e no início da primavera seria nossa apresentação. Foi no audidório da escola, para um super público de pouco mais de 100 crianças do jardim e primeiros anos. Não lembro muito da peça nem das minhas falas. Mas lembro que tinha uma passagem assim: "Olá, eu sou o Arauto e venho trazer notícias do reino."

Passadas 17 primaveras, a palavra Arauto voltou a fazer parte da minha história. Nesta segunda-feira, 26 de setembro, realizei a primeira matéria pelo Jornal Arauto, na cidade de Vera Cruz. Agora, quando me perguntam o que sou e o que faço, impossível não lembrar da aula  de Educação Artística. Sempre vou pensar em dizer: "eu sou o Arauto e venho trazer notícias do reino."

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

CAVANHAQUE X LUZES: UMA NOVA MODALIDADE DA GUERRA DOS SEXOS

Eduardo se olhou no espelho e notou que a barba estava grande. Pensou em  desenhar um cavanhaque, mas antes disso, resolveu consultar seu irmão mais velho. "Cavanhaque com ou sem bigode, Zé?". Sem tirar os olhos da TV, ele responde lá da sala: "Se o bigode emenda com a parte de baixo, deixa. Senão, deixa só a parte de baixo". Mesmo sem emendar o bigode no queixo, Eduardo deixou a barba ao redor de toda a boca.

Enquanto isso, no outro canto da cidade, a Mônica fez luzes no cabelo para o encontro com o quase namorado, o Eduardo. Uma olhada no espelho, uma mexida no cabelo, uma última conferida. Os dois se encontraram, então, à noite, no centro da cidade, num restaurante. A Mônica de luzes, e Eduardo de cavanhaque. Ela, com a auto-estima lá em cima em função do cabelo "novo". Ele, se achando o cara mais macho do mundo com aquele cavanhaque.

Ao se encontrarem, a Mônica notou o cavanhaque do Eduardo instantaneamente. "E essa barbicha?". Um beijo para a saudação. "Ui, isso pinica", reclamou ela. Ele se chateou, afinal, o cavanhaque era um investimento estético, mas a moça não gostou. A moça, aliás, passava a mão nos cabelos, mexia-os, na esperança que o pretendente notasse as luzes feitas na mesma tarde do encontro. O cabelo ainda exalava o cheiro dos produtos do salão de beleza.

"Não notou nada?", indaga ela. "Perfume novo?", experimenta ele. "Não!", exclama ela, já nervosa. "Então não sei", diz ele indiferente. Silêncio. "Tu não notou que fiz luzes no cabelo?", protesta Mônica. Agora foi a vez dela se chatear. Afinal, as luzes eram um investimento estético e o moço não notou. "Tu também não gostou do meu cavanhaque", responde Eduardo. Mais silêncio. O casal perdeu o clima, jantaram e foram para as suas respectivas casas.

Cavanhaque não foi feito para agradar mulheres. Luzes não chamam atenção de homens. A grande maioria dos homens não presta atenção em luzes. Duvido que alguma mulher goste de cavanhaque, barba ou bigode. Os homens deixam esses pelos crescerem para demonstrar a masculinidade perante os outros homens. Da mesma forma, as mulheres se enfeitam para exibir a beleza para outras mulheres.

Eduardo raspou o cavanhaque e não sabe dizer o que a Mônica tem feito ultimamente no cabelo. Só sabe que está na altura dos ombros.

domingo, 18 de setembro de 2011

O GAÚCHO E A MODA

O meu pai dizia que o gauchismo e as coisas que envolvem essa tradição não saem de moda. Lamentavelmente meu velho estava errado. Lembro que um dia eu comentei que certo tipo de bombacha não se usava mais. Meio negligente, ele me respondeu: "Deixa de ser bobo, guri. Esse tipo de coisa não sai de moda. Bombacha é bombacha e sempre vai ser bombacha."

Não é bem assim. Quem frequenta CTG e gosta do meio tradicionalista/nativista sabe que não é. Há uns dez anos atrás, o estilo de bombacha era aquela bem larga (mas bem larga mesmo!). Hoje, quem vai a um fandango com um bombachão daqueles corre o risco de sofrer bulin. O que vale é a bombacha castelhana mais estreita, de brim. Alguns gaúchos parecem que estão embalados a vácuo.

E não é só com a bombacha, não. Com a música também é assim. Há dez anos, ainda se comprava disco de conjunto de baile, estilo tradicionalista. Hoje se compra (se é que se compra) disco de cantores nativistas. O troço foi de Gildo de Freitas a Monarcas. Tudo fora de moda. Agora o que faz sucesso é Marcelo Oliveira, Joca Martins.

Outro exemplo do modismo dentro do gauchismo? A bota. Há dez anos tinha um estilo de bota que tinha um cano mais largo, preso bem perto do joelho, com tentos de couro. Agora, só o que se vê são as botas amarelas, com cano justo. Mais um: as prendas. Antigamente, o vestido era muito armado e hoje é quase sem armação. Reto como um cano PVC.

Até na dança gaúcha a moda tá presente. Sim, está sim (ou alguém dança o ultrapassado 2 X 1? ). Quem gosta de dançar valsa? O lenço também mudou. Era vermelho, com as pontas na altura do umbigo. Agora tá colorido e com as pontas bem curtas. Agora, os piás inventaram uma moda ridícula de virar o lenço pra trás. A boina mudou, o chapéu mudou, a camisa mudou. Tudo mudou em dez anos nos costumes do gaúcho.

Alguns pesquisadores podem dizer que isso é um ciclo cultural. Folcloristas dizem que de 20 em 20 anos surge um novo movimento cultural. Passamos do Regionalismo para o Tradicionalismo, depois para o Nativismo. Agora volta a palavra Regionalismo, mas em um sentido um pouco diferente daquele primeiro. Em meio a isso tudo, muda a indumentária e a dança, por exemplo.

Meu pai estava errado. A moda impera em meio à tradição também. Será que um dia as possibilidades de se esgotarão? Há interesses por trás dessa moda? Independente disso, tomara que nos próximos dez anos a moda não abocanhe o nosso mapa Riograndense. Já pensou a próxima geração dizendo: "Ser gaúcho está fora de moda!". Aí será demais!