domingo, 7 de agosto de 2011

A TRISTE MORTE DO CEBINHO NO PÉ DE ARAÇÁ

Hoje acordei com o cantar dos pássaros. Parecia que o papai Sabiá tinha levado a família para passear no belo domingo de sol. É bonito ver a felicidade desses bichos soltos por aí... O canto deles era tão intenso, que pareciam querer me dizer alguma coisa com aquela cantoria toda. A "algazarra", me causou um sorriso tímido e me fez refletir "De onde será que veio essa bicharada? Onde moram? O que faziam por aqui?"


O ESTILIGUE: A arma do crime

Estas mesmas perguntas, me fiz há 18 anos atrás, quando matei meu primeiro e único passarinho. Eu tinha 11 anos e produzi meu próprio bodoque (ou estilingue, ou funda... como queiram). Todos os meninos da vizinhança tinham aquela arma com base de forquilha   de madeira (preferencialmente de pitangueira ou goiabeira), com borracha amarela e "casinha" de couro.


Geralmente, usava minha funda pra praticar tiro ao alvo em potes plásticos e cabeças de mourões - e até que não era ruim de mira. Mas um certo dia, alguns guris da vila  combinaram uma caçada de passarinho. Eu nunca tinha ido pra uma caçada de passarinho. "Vamos, então" - disse, meio inseguro. Um deles ainda completou: "Ele tá de funda nova!"

Matar pra quê?
Chegamos a um arvoredo, que ficava há uns cem metros da minha casa. Os passarinhos faziam festa lá, em meio a laranjeiras, bergamoteiras e caqueiros. Eu fui o primeiro a atirar. Tiro certeiro foi debaixo de um pé de araçá: Schhhhplac! O golpe foi na cabeça e bicho caiu como uma peteca aos pés da gurizada. "É um cebinho!" - gritou um.

Agarrei a pequena ave na mão. Estava quente, ainda vivo, mas não resistiria; aquele bichinho delicado de uns seis centímetros morreria em poucos segundos. Enquanto mini ave agonizava na minha mão, eu pensava: "Tá, e o que eu faço com esse bicho? É assim que é uma caçada de passarinho? Matar o bicho só pra praticar o tiro em alvos vivos em movimento?"


Atirei o pobre cebinho inerte no chão (e não tinha nenhum gato pra comer aquele passarinho!). Segui a caçada e errei todos os tiros de propósito. Depois fui embora, alegando uma dor de barriga. Ao chagar em casa, o remorso era secreto, mas duro. "De onde vinha aquele pobre cebinho naquela hora? Onde era o seu ninho? Por que ele tinha que estar ali? Queria ele apenas matar a fome com um doce araçá?".

Nunca saberei destas respostas, mas soube que interrompi sua jornada terrena com um covarde golpe de pedra na cabeça pelo simples prazer de acertar um alvo. Soube que, a partir daquele dia, nunca mais usaria o estilingue para matar nenhum passarinho. Soube que não são os passarinhos que devem ser alvos dos humanos. Aprendi que os ouvidos humanos são alvos de seu delicado canto. Na manhã deste domingo, tive certeza disso.

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