terça-feira, 7 de setembro de 2010

PATRIOTISMO: INFELIZMENTE NÃO SOU ADEPTO

Era um 7 de setembro de 1998, eu tinha 16 anos. Naquele tempo, a gente ainda era obrigado a desfilar pela escola, sob pena de ter faltas ou prejuízo em alguma nota. O uniforme não era dos mais bonitos, não: camisa branca, calça e sapato pretos. Do alto da minha rebeldia de adolescente, logicamente eu não queria participar de nada obrigado (muito menos com aquele traje!).

Mas não tinha escolha. Pro meu pai, aquilo era importante. Além do mais, como explicar o desfalque nas notas e presenças? Tinha que encarar o tal Desfile de 7 de Setembro (de camisa branca, calça e sapato preto. Era praticamente um time de garçons). Eu acreditava que meu pensamento era o mesmo de todos os guris da turma: "Será que eles vão ir nesse troço? E vestidos assim?"

Eu tinha que conferir antes de me vestir. Peguei a minha Caloi e fui lá na  Escola Carlos Corrêa da Silveira pra ver o time de garçons. O pior é que a turma estava mesmo lá. De camisa branca, calça e sapatos pretos e de cabelo lambido. E como todos estavam dispostos a encarar, eu também estava. Voltei correndo pra casa. Precisava por o uniforme de garçom pro tal desfile.

Faltava menos de uma hora pro começo do evento cívico. As pessoas já se posicionavam na calçada da rua principal para ver os filhos, netos, sobrinhos e amigos, demostrando todo o "amor" (forçado) pela Pátria. Então, eu precisava me apressar. Ainda tinha que tomar banho e voltar. Acelerei minha Caloi e me mandei pra casa. Última marcha. A todo o vapor!

Mas havia uma ladeira há 200 metros da minha casa. Por ali, a roda dianteira derrapou numa valeta (a rua era de chão batido) e eu voei. Na queda, quebrei o braço esquerdo e esfolei todo lado direito do corpo. Um tombaço! Meu primeiro pensamento, antes mesmo da dor, foi: "Agora não vou mais naquela porcaria de desfile." De fato. Fui direto pro hospital.

Cada vez que falam em Semana da Pátria é desse dia que eu lembro. Chega a dar uma fisgada no braço esquerdo. Tenho péssimas lembranças dessa data. Não sou patriota. Não aprendi a ser, como muitos brasileiros. Sentimento ainda mais fragmentado pela experiência ruim justamente no Dia da Pátria. É uma pena eu não ter o amor que gostaria pelo Brasil.

Queria ter o amor que os chilenos tem pela Pátria deles. Mineiros estão presos na mina e com condições precárias há um mês. Mesmo assim, fazem questão de cantar o hino de seu país. Ganharam, cada um, uma bandeira - e isso é um orgulho imenso para eles. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, queria que eles fossem resgatados a tempo para celebrarem o Bicentenário da Independência chilena, celebrada no dia 18 deste mês.

E eles comemorariam. Mesmo que fosse de camisa branca, calça e sapatos pretos. E não precisariam conferir se os colegas estariam vestidos assim. Mas a história dos dois países é mesmo muito diferente.

7 comentários:

  1. Sem dúvida o sete de setembro nos traz mas lembranças...ainda lembro do desfile do time de basquete da Ginastica aqui...o calção mostrava as coxas brancas, e a camisa apertada...me escondia atraz da faixa...ótimo texto Urgel... Brixner

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  2. E eu,...tambem sempre que vejo um desfile, tambem lembro de um fato que aconteceu comigo heheh.
    Pra Fugir de ser mais um garçon, tive a péssima idéia de participar da banda ai de encruzilhada.
    Resumindo, naquela época,..ainda adolescente, tinha uma namoradinha, e a poucos minutos antes da banda " entrar em forma" me encontrei com ela para uns beijinhos de boa sorte, no fundo do ginásio(escola). Ela tambem participaria do desfile, e estava com um baton vermelho,...naquela coisa, de amor de adolescente e anciedade com minha extréia na banda, esqueci que baton vermelho deixa o rosto todo lambuzado. E como tinha "bons amigos" na banda, ninguém me avisou de nada, e assim fui eu, facero da vida, passar por toda a XV de novembro, com aquele uniforme azul. Detalhe, eu era o mais alto, e na formação da banda,...o mais alto ficava na frente a direita, ou seja, bem de cara com o povão.
    Hheheheh, vocês lembram do Bozo? era eu descrito em uma certa tarde de 7 de setembro.

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  3. O descaso de muitos brasileiros com a data é até uma questão cultural, afinal não lutamos pela nossa independência e sim a compramos ao assumirmos a dívida de Portugal com a Inglaterra... Vale mais pelo feriado que nos proporciona do que pela data em si... Uma pena, mas fazer o quê... Abraços...

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  4. Quem nunca ficou envergonhado para desfilar no 7 de setembro? Acho que todos passaram por está fase!e o uniforme não muda!
    Patriotismo realmente a de se concordar que este não é o forte do Brasil, como conversamos anteriormente o gaúcho é bem mais convincente ao falar do Rio grande do Sul, orgulho em dizer: eu sou gaúcho!
    Ótimo texto!

    Édison Pedroso

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  5. Adorei a comparação.
    Ainda sou adepta ao patriotismo. Espero que esse sentimento nunca passe. Mesmo que às vezes, ele fica esquecido em meus pensamentos.
    Bela crônica...gostei mto.

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  6. Sem dúvida o sete de setembro traz mas lembranças eramos obrigada a desfilar e tinha uma prof q gritava com a gente o meio da rua na frente de tds.
    Lindo texto!
    Parabéns
    Maria da graça

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  7. Cara, eu era patriota, ao menos naquele tempo.Uma vez desfilei pelo Colégio Mariano da Rocha vestido de macaco, tava um calorão naquele dia, e eu dentro de um saco de estopa, com um rabo ridículo de macaco e uma máscara, quase morri de calor, mas fui, em nome da pátria e da natureza!!

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