Você já ouviu falar no "Gentileza"? Sim, no masculino... "O Gentileza". José Datrino ficou famoso na década de 80 por fazer inscrições nos muros do Rio de Janeiro. Mas não eram quaisquer inscrições.
Eram frases incentivando a gentileza, palavras que até hoje fazem as pessoas pensarem sobre a sua existência na Terra e a convivência com o resto da humanidade. "Gentileza gera Gentileza" talvez seja tua frase mais famosa e lhe rendeu a alcunha de "Profeta Gentileza". Impossível ficar inerte diante de suas frases - algumas falavam de compaixão, outras de crítica ao mal-estar do mundo.
"Gentileza" morreu em maio de 1996, aos 76 anos. Aos poucos, suas palavras também foram morrendo. As inscrições foram danificados por pichadores e vândalos. Mais tarde, os murais foram cobertos por tinta cinza. A recuperação das inscrições do "Gentileza" foram através de homenagens em instituições e nas artes. Duas músicas foram compostas com seu pseudônimo.
"Feito louco / Pelas ruas / Com sua fé / Gentileza / O profeta / E as palavras / Calmamente / Semeando / O amor / À vida / Aos humanos" diz a canção de Gonzaguinha.
Marisa Monte lamenta: "Apagaram tudo / Pintaram tudo de cinza / Só ficou no muro / Tristeza e tinta fresca."
Toda a história de "Gentileza" me faz refletir como estão os muros de Encruzilhada do Sul. Nessa época, quem tiver alguma intimidade com tinta, pincel e esquadros, está com os bolsos cheios. Propaganda política. "Vote nele! Vote naquele!". Uma poluição visual que põe em dúvida sua própria eficiência.
Em convenção, os partidos políticos estipularam uma propaganda por propriedade (exceto quando o terreno é de esquina - o que permite dois anúncios de quatro metros quadrados cada, um em cada rua). Dois metros por dois! Você cabe dentro do anúncio em pé e com os braços abertos. Quatro metros quadrados de propaganda política. Com a débil credibilidade da classe política, essas são dimensões desperdiçadas, enquanto meio metro quadrado de "Gentileza", já bastaria.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
quinta-feira, 22 de julho de 2010
CUIDADO QUE O BRUNO TE PEGA!
Uma das principais testemunhas do caso Bruno é encruzilhadense. Sim. Não é bairrismo. Milena Baroni Fontana era amiga de Eliza Samudio, segundo informações do Jornal carioca “O Dia”. Esse fato me fez pensar sobre a cobertura do caso e, mais tarde, me causou uma crise de riso. Siga a leitura e entenda minha situação.
Noite dessas, o latido dos cães da rua entraram no meu sonho. Sonhava eu, que alguém invadira o meu pátio e os cachorros latiam enlouquecidamente, na tentativa de expulsar o intruso. Quem era o intruso? Adivinha... O ex-goleiro flamenguista Bruno, acusado de matar Eliza Samudio (sonho, é sonho, né?).
- Que diabos o Bruno estaria fazendo no pátio da minha casa? Teria ele fugido da cadeia e parado aqui, em Encruzilhada do Sul? E logo na minha casa? Estaria ele atrás da principal testemunha do caso, a encruzilhadense Milena Baroni Fontana?
Já estava remoendo ideias para tentar explicar a presença dele no meu pátio e armando estratégias para tentar capturá-lo. Claro, sentia medo que ele poderia fazer comigo – já que está sendo acusado de matar e esquartejar a mulher. Cheguei a achar que Bruno poderia querer me atirar aos Rottweillers. Mas acabei acordando e me dei conta de que os latidos eram por causa de um outro cão.
Não é preciso ser psicólogo para entender que esse sonho está relacionado à massiva cobertura do caso Bruno pela mídia. O cara tá em todos os lugares! Internet, TV, rádio, jornais. Indiretamente, chegou aqui, na minha cidade. Pô, já to até começando a acreditar que o cara é um assassino sanguinário. E não é, né!? Bom, sei lá!
Se é ou não é, piadas de humor negro já caíram na boca no povo: "Esse Bruno é de matar". Casais já brincam de discutir nessa temática: "Tu não te fresqueia, muié... Óia que eu te atiro pros Rottweillers". Crianças já não acreditam em Bicho-Papão. "Cuidado que o Bruno te pega", dizem os mais sarcásticos pais.
Com tudo isso, impossível não se irritar com a cobertura exagerada da mídia. Impossível não sonhar com Bruno. Quem ainda não teve o ex-goleiro como personagem dos sonhos, ainda terá. O abominável monstro da mídia vai te pegar! Vai atormentar seus sonhos! Às vezes, ele se disfarça de goleiro. O lado bom disso tudo é que depois cai na boca do povo e vira piada. A comunicação tem dessas!
Noite dessas, o latido dos cães da rua entraram no meu sonho. Sonhava eu, que alguém invadira o meu pátio e os cachorros latiam enlouquecidamente, na tentativa de expulsar o intruso. Quem era o intruso? Adivinha... O ex-goleiro flamenguista Bruno, acusado de matar Eliza Samudio (sonho, é sonho, né?).
- Que diabos o Bruno estaria fazendo no pátio da minha casa? Teria ele fugido da cadeia e parado aqui, em Encruzilhada do Sul? E logo na minha casa? Estaria ele atrás da principal testemunha do caso, a encruzilhadense Milena Baroni Fontana?
Já estava remoendo ideias para tentar explicar a presença dele no meu pátio e armando estratégias para tentar capturá-lo. Claro, sentia medo que ele poderia fazer comigo – já que está sendo acusado de matar e esquartejar a mulher. Cheguei a achar que Bruno poderia querer me atirar aos Rottweillers. Mas acabei acordando e me dei conta de que os latidos eram por causa de um outro cão.
Não é preciso ser psicólogo para entender que esse sonho está relacionado à massiva cobertura do caso Bruno pela mídia. O cara tá em todos os lugares! Internet, TV, rádio, jornais. Indiretamente, chegou aqui, na minha cidade. Pô, já to até começando a acreditar que o cara é um assassino sanguinário. E não é, né!? Bom, sei lá!
Se é ou não é, piadas de humor negro já caíram na boca no povo: "Esse Bruno é de matar". Casais já brincam de discutir nessa temática: "Tu não te fresqueia, muié... Óia que eu te atiro pros Rottweillers". Crianças já não acreditam em Bicho-Papão. "Cuidado que o Bruno te pega", dizem os mais sarcásticos pais.
Com tudo isso, impossível não se irritar com a cobertura exagerada da mídia. Impossível não sonhar com Bruno. Quem ainda não teve o ex-goleiro como personagem dos sonhos, ainda terá. O abominável monstro da mídia vai te pegar! Vai atormentar seus sonhos! Às vezes, ele se disfarça de goleiro. O lado bom disso tudo é que depois cai na boca do povo e vira piada. A comunicação tem dessas!
segunda-feira, 19 de julho de 2010
UM FIM DE TARDE DAQUELES
Fim de tarde. Um fogo na lareira, um mate feito a capricho, chocolate meio amargo... tudo ia bem. Até o vento começar a rebojar fumaça pra dentro. Foram usados todos os recursos: o fogo foi empurrado mais profundo, o registro da lareira foi usado de todos os jeitos (bem aberto, semi-aberto, bem fechado, meio termo). Quando parecia que tudo estava resolvido, uma rajada de vento enchia a sala de fumaça.
"A esperança é a última que morre", dizia a minhoca na boca do lambari. O pensamento era positivo. "O fogo vai se ajeitar. Quando se ajeitar, a fumaça vai acalmar." Então me sentei no sofá, com os olhos meio turvos e servi um chimarrão. Quebrei um pedaço do chocolate meio amargo e saboreei os dois, ao mesmo tempo. Fechava os olhos - não para concentrar no sabor, mas pra me proteger da fumaça.
Uma nova rajada de vento trouxe mais fumaça pra sala, que recém começava a esquentar. Tive de abrir as portas e janelas pra fumaça sair. Voltei ao sofá. "Agora vai!". E foi. O vento deu um tempo - curtíssimo. Mais vento, mais fumaça. Neste instante, enchia mais uma cuia de chimarrão. A raiva foi tanta, que acabei queimando a mão com a água quente.
"Agora chega!". Enchi uma jarra d'água e acabei com as labaredas. Sem fogo, sem fumaça. Me enganei mais uma vez. Mesmo sem fogo, a casa estava cada vez mais defumada. A solução foi molhar uma toalha e jogar na lareira. Resolveu! Sem fumaça... Chegou a dar dor de cabeça.
Porém a raiva e o cheiro me impediam de ficar em casa. Propus uma bóia na casa de um amigo. Quem sabe boas risadas pudessem amenizar o stress daquele fim de tarde terrível. Antes, tive que comentar com ele sobre o desastre da fumaça. "Tche, nem te conto. Fui fazer um fogo e não deu certo. Enchi a casa de fumaça." Sabe o que ele disse? Exatamente a mesma coisa - e ainda completou dizendo: "Aqui também. Eu atirei água na lareira."
"A esperança é a última que morre", dizia a minhoca na boca do lambari. O pensamento era positivo. "O fogo vai se ajeitar. Quando se ajeitar, a fumaça vai acalmar." Então me sentei no sofá, com os olhos meio turvos e servi um chimarrão. Quebrei um pedaço do chocolate meio amargo e saboreei os dois, ao mesmo tempo. Fechava os olhos - não para concentrar no sabor, mas pra me proteger da fumaça.
Uma nova rajada de vento trouxe mais fumaça pra sala, que recém começava a esquentar. Tive de abrir as portas e janelas pra fumaça sair. Voltei ao sofá. "Agora vai!". E foi. O vento deu um tempo - curtíssimo. Mais vento, mais fumaça. Neste instante, enchia mais uma cuia de chimarrão. A raiva foi tanta, que acabei queimando a mão com a água quente.
"Agora chega!". Enchi uma jarra d'água e acabei com as labaredas. Sem fogo, sem fumaça. Me enganei mais uma vez. Mesmo sem fogo, a casa estava cada vez mais defumada. A solução foi molhar uma toalha e jogar na lareira. Resolveu! Sem fumaça... Chegou a dar dor de cabeça.
Porém a raiva e o cheiro me impediam de ficar em casa. Propus uma bóia na casa de um amigo. Quem sabe boas risadas pudessem amenizar o stress daquele fim de tarde terrível. Antes, tive que comentar com ele sobre o desastre da fumaça. "Tche, nem te conto. Fui fazer um fogo e não deu certo. Enchi a casa de fumaça." Sabe o que ele disse? Exatamente a mesma coisa - e ainda completou dizendo: "Aqui também. Eu atirei água na lareira."
domingo, 18 de julho de 2010
GRITOS DE UMA MORTE NECESSÁRIA
Quatro homens e uma mulher são testemunhas de uma morte necessária... O animal está ali, na mesa, com o peito exposto para cima, com cada pata calçada. A daga invade o peito e fura o coração. O berro é forte e agonizante, como se a alma fosse desgrudada do corpo.
As pessoas se entreolham no momento em que cessam os gritos e os movimentos do animal e, como num código predefinido, começa o serviço. As patas são imersas em uma cambona de água fervendo pra "desabotoar os cascos". A raspagem dos pelos é feita por todos, ao mesmo tempo. O suíno precisa estar limpo para ser aberto e desmembrado.
A daga, que lhe matara há poucos instantes, agora abre o peito e a barriga. As vísceras são retiras, o sangue é todo recolhido. A carne é separada, a banha (ou toucinho) e a pele também são reservadas. Cada parte do corpo do porco tem uma utilidade: as patas, as orelhas e a pele viram ingredientes pro feijão. O toucinho vira banha e torresmo. A carne pode ter três destinos: consumo de subsistência, linguiça ou comércio. O que sobra vira queijo, morcela ou charque.
Diz o ditado popular que, do porco, só não se aproveita o grito. Mas, de certa forma, o berro também é aproveitado - para entender sobre a morte do próprio porco. Principalmente por aqueles que não estão acostumados com a lida da campanha; que não entendem que a morte, às vezes, é imprescindível para a sobrevivência dos campesinos.
No interior do município de Encruzilhada do Sul, ainda existem lidas quase artesanais, como as carneadas. O que pra uns pode parecer uma brutalidade, para outros, é uma prática que faz parte do cotidiano. A partir daquele grito de agonia , começa o serviço. O serviço garante a subsistência. Quatro homens e uma mulher são testemunhas de uma morte necessária...
As pessoas se entreolham no momento em que cessam os gritos e os movimentos do animal e, como num código predefinido, começa o serviço. As patas são imersas em uma cambona de água fervendo pra "desabotoar os cascos". A raspagem dos pelos é feita por todos, ao mesmo tempo. O suíno precisa estar limpo para ser aberto e desmembrado.
A daga, que lhe matara há poucos instantes, agora abre o peito e a barriga. As vísceras são retiras, o sangue é todo recolhido. A carne é separada, a banha (ou toucinho) e a pele também são reservadas. Cada parte do corpo do porco tem uma utilidade: as patas, as orelhas e a pele viram ingredientes pro feijão. O toucinho vira banha e torresmo. A carne pode ter três destinos: consumo de subsistência, linguiça ou comércio. O que sobra vira queijo, morcela ou charque.
Diz o ditado popular que, do porco, só não se aproveita o grito. Mas, de certa forma, o berro também é aproveitado - para entender sobre a morte do próprio porco. Principalmente por aqueles que não estão acostumados com a lida da campanha; que não entendem que a morte, às vezes, é imprescindível para a sobrevivência dos campesinos.
No interior do município de Encruzilhada do Sul, ainda existem lidas quase artesanais, como as carneadas. O que pra uns pode parecer uma brutalidade, para outros, é uma prática que faz parte do cotidiano. A partir daquele grito de agonia , começa o serviço. O serviço garante a subsistência. Quatro homens e uma mulher são testemunhas de uma morte necessária...
sábado, 17 de julho de 2010
FAZENDO ARTE ATRÁS DA PORTA
Quando era aluno de Comunicação Social/Jornalismo, da Unisc, fui encarregado de fazer uma crônica para compor o Unicom (Jornal experimental do curso). Logo abaixo, está ela. Fala sobre as peripécias que acontecem nos banheiros masculinos (e talvez femininos) da Universidade de Santa Cruz do Sul. É por causa de situações como essa que tenho saudade do termo "estudante". Boas risadas!
Alguém já leu o que tem escrito atrás das portas dos banheiros masculinos da Unisc? Tem de tudo! Lista de meninas, pornografia, (anti) alusão às drogas e ao Nazismo... e por aí vai! Tem até jogo interativo. Algum usuário desenhou o “sustenido” do jogo da velha e marcou a primeira jogada (foi importante a sinceridade do primeiro jogador). Em seguida, outro, de necessidades mais demoradas, marca a segunda jogada. A competição segue e, por pura sorte, só o vencedor sabe que venceu.
A parte interna das portas dos banheiros do curso de Comunicação Social causa risos incontroláveis. Outro dia, estava usando o banheiro do bloco 12. Depois de ler várias manifestações de pensamento, vi uma frase bem pequena lá em cima, no alto da porta. Forcei a vista, mas não consegui ler. Pensei em levantar, mas desisti (isso se mostraria mais tarde uma ótima idéia). Depois do “serviço” feito resolvi conferir o que havia escrito lá: “Se você está lendo isso AQUI, senta que ta c... fora do vaso”.
A “arte” atrás das portas dos banheiros começou a me despertar mais curiosidades. Um belo dia fui ao banheiro da Biblioteca Central. Lá, ao que parece, não poderia ter tanta bobagem atrás das portas. Afinal, é um ambiente intelectual, de estudo. Mero engano. Lá se encontram as mais engraçadas traquinagens. Um usuário não teve paciência para riscar a madeira dura da porta e foi mais prático (e criativo). Colou um adesivo atrás da segunda porta com o seguinte dizer: “Não força senão estoura a hemorróida”.
Quando precisei usar novamente o banheiro da Biblio, procurei variar de porta. Quando a vontade não era tão urgente, me excursionava a outros WC’s do Campus. Naquele do Centro de Convivência, há uma ótima: “A maconha causa ‘perca’ de memória e outras coisas que eu já esqueci”. O erro de grafia causou comentários calorosos logo abaixo, difamando o maconheiro semi-analfabeto. Encerrando a discussão, a seguinte frase é categórica: “Shhh.... silêncio! Tô fazendo cocô!!!”
Um dia, passava pelo bloco 1 e a necessidade fisiológica se manifestou. Logo pensei: “Hoje tem frases novas. Ainda não vi que há por trás das portas desse banheiro”. Entrei na primeira porta. Estava desafivelando o cinto, quando olhei pra parte interna na porta. Não havia nada escrito. Decepcionei-me. Afivelei o cinto novamente e me dirigi aleatoriamente à última porta. Não havia vaso, era um espaço com chuveiro, próprio para banho. Havia somente mais uma porta.
Será que o pessoal daquele bloco seria mais civilizado que o restante da Unisc? Será que aquele seria um banheiro sem “arte” atrás das portas? Bom, a necessidade fisiológica deu sinal que não havia muito tempo disponível e entrei na porta do meio. Ao desafivelar o cinto pela segunda vez, o olhar para a porta foi automático. Lá também não havia nada escrito, mas tinha algo ainda pior. Três borrões marrons. Rastros de dedos. Que horror! Definitivamente, o bloco 1 não é o mais civilizado da universidade! Prefiro o jogo da velha.
*********************************************
Alguém já leu o que tem escrito atrás das portas dos banheiros masculinos da Unisc? Tem de tudo! Lista de meninas, pornografia, (anti) alusão às drogas e ao Nazismo... e por aí vai! Tem até jogo interativo. Algum usuário desenhou o “sustenido” do jogo da velha e marcou a primeira jogada (foi importante a sinceridade do primeiro jogador). Em seguida, outro, de necessidades mais demoradas, marca a segunda jogada. A competição segue e, por pura sorte, só o vencedor sabe que venceu.
A parte interna das portas dos banheiros do curso de Comunicação Social causa risos incontroláveis. Outro dia, estava usando o banheiro do bloco 12. Depois de ler várias manifestações de pensamento, vi uma frase bem pequena lá em cima, no alto da porta. Forcei a vista, mas não consegui ler. Pensei em levantar, mas desisti (isso se mostraria mais tarde uma ótima idéia). Depois do “serviço” feito resolvi conferir o que havia escrito lá: “Se você está lendo isso AQUI, senta que ta c... fora do vaso”.
A “arte” atrás das portas dos banheiros começou a me despertar mais curiosidades. Um belo dia fui ao banheiro da Biblioteca Central. Lá, ao que parece, não poderia ter tanta bobagem atrás das portas. Afinal, é um ambiente intelectual, de estudo. Mero engano. Lá se encontram as mais engraçadas traquinagens. Um usuário não teve paciência para riscar a madeira dura da porta e foi mais prático (e criativo). Colou um adesivo atrás da segunda porta com o seguinte dizer: “Não força senão estoura a hemorróida”.
Quando precisei usar novamente o banheiro da Biblio, procurei variar de porta. Quando a vontade não era tão urgente, me excursionava a outros WC’s do Campus. Naquele do Centro de Convivência, há uma ótima: “A maconha causa ‘perca’ de memória e outras coisas que eu já esqueci”. O erro de grafia causou comentários calorosos logo abaixo, difamando o maconheiro semi-analfabeto. Encerrando a discussão, a seguinte frase é categórica: “Shhh.... silêncio! Tô fazendo cocô!!!”
Um dia, passava pelo bloco 1 e a necessidade fisiológica se manifestou. Logo pensei: “Hoje tem frases novas. Ainda não vi que há por trás das portas desse banheiro”. Entrei na primeira porta. Estava desafivelando o cinto, quando olhei pra parte interna na porta. Não havia nada escrito. Decepcionei-me. Afivelei o cinto novamente e me dirigi aleatoriamente à última porta. Não havia vaso, era um espaço com chuveiro, próprio para banho. Havia somente mais uma porta.
Será que o pessoal daquele bloco seria mais civilizado que o restante da Unisc? Será que aquele seria um banheiro sem “arte” atrás das portas? Bom, a necessidade fisiológica deu sinal que não havia muito tempo disponível e entrei na porta do meio. Ao desafivelar o cinto pela segunda vez, o olhar para a porta foi automático. Lá também não havia nada escrito, mas tinha algo ainda pior. Três borrões marrons. Rastros de dedos. Que horror! Definitivamente, o bloco 1 não é o mais civilizado da universidade! Prefiro o jogo da velha.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
OMELETE DOLORIDO... Uhhhhhh!!!!!!! (Memórias de uma tragicomédia)
Ginásio Mesquitão, treino de futsal dos universitários. Três minutos de jogo. Seria o meu terceiro toque na bola. O adversário avançava pela intermediária esquerda e eu me apresentei automaticamente para marcá-lo. Depois de não ter mais opção, o adversário chuta. Um bico... que foi interceptado por uma parte incomum do corpo: os testículos! De baixo pra cima... Em cheio!
No primeiro segundo, o grito foi maior que a dor. A partir daí, a dor aumentava até suprimir a voz por completo. Subia para a região abdominal e causava fortes náuseas. Os pulmões deixavam entrar somente a quantidade de ar necessário para não morrer sufocado. A dor atinge o grau mais elevado e as pernas travam em um ângulo de 90º. Companheiros de time e adversários se uniam na tentativa de ajudar. Alguns tentavam esticar as pernas para relaxar a região pubiana, outros apenas com apoio moral - tudo em vão. A dor não dava trégua!
Depois de longos 3 minutos me contorcendo de dor na quadra, consegui me erguer com a ajuda de alguns colegas de time e fui em direção à casamata. Lá me sentei com muita dificuldade no primeiro dos três degraus. Pela primeira vez, o ar percorreu toda a cavidade pulmonar, mas dor ainda era muito intensa. Tentei olhar o resto do jogo pra ver se me detraia, mas os jogadores que estavam de fora naquele momento, me obstruíram a visão.
Então percebi que o volume geral foi baixando. Pensei: "Ué? Mas eu estou vendo os guris conversarem... eles estão falando... as bocas estão se mexendo!!! Como não consigo mais ouvi-los?". Então, a visão periférica foi sumindo. Eis que tive outro pensamento, desta vez de alívio: "Finalmente vou desmaiar! Graças a Deus!". Porém num ato instintivo, o diafragma forçou a entrada de mais ar nos pulmões e o volume geral foi voltando ao normal, como a visão também foi restabelecida - mas a dor continuava! Incessante!
Voltar pro jogo? Nem pensar! O jeito é ir embora. O mais devagar possível, com as pernas levemente afastadas. Depois de vinte minutos de uma árdua caminhada, cheguei em casa. Consegui sentar em frente ao computador. Lembrando do acontecido, não sabia se ria ou se chorava. Coloquei no nick do MSN: "Omelete dolorido. Uhhhhh". Não deu dois minutos, o primeiro curioso perguntou o que acontecera. Ao contar a história pra esse curioso, conclui: "É uma situação tão dolorida que não vale a pena nem ser relembrada”. O nick foi retiado e a dor foi gradativamente cessando.
No primeiro segundo, o grito foi maior que a dor. A partir daí, a dor aumentava até suprimir a voz por completo. Subia para a região abdominal e causava fortes náuseas. Os pulmões deixavam entrar somente a quantidade de ar necessário para não morrer sufocado. A dor atinge o grau mais elevado e as pernas travam em um ângulo de 90º. Companheiros de time e adversários se uniam na tentativa de ajudar. Alguns tentavam esticar as pernas para relaxar a região pubiana, outros apenas com apoio moral - tudo em vão. A dor não dava trégua!
Depois de longos 3 minutos me contorcendo de dor na quadra, consegui me erguer com a ajuda de alguns colegas de time e fui em direção à casamata. Lá me sentei com muita dificuldade no primeiro dos três degraus. Pela primeira vez, o ar percorreu toda a cavidade pulmonar, mas dor ainda era muito intensa. Tentei olhar o resto do jogo pra ver se me detraia, mas os jogadores que estavam de fora naquele momento, me obstruíram a visão.
Então percebi que o volume geral foi baixando. Pensei: "Ué? Mas eu estou vendo os guris conversarem... eles estão falando... as bocas estão se mexendo!!! Como não consigo mais ouvi-los?". Então, a visão periférica foi sumindo. Eis que tive outro pensamento, desta vez de alívio: "Finalmente vou desmaiar! Graças a Deus!". Porém num ato instintivo, o diafragma forçou a entrada de mais ar nos pulmões e o volume geral foi voltando ao normal, como a visão também foi restabelecida - mas a dor continuava! Incessante!
Voltar pro jogo? Nem pensar! O jeito é ir embora. O mais devagar possível, com as pernas levemente afastadas. Depois de vinte minutos de uma árdua caminhada, cheguei em casa. Consegui sentar em frente ao computador. Lembrando do acontecido, não sabia se ria ou se chorava. Coloquei no nick do MSN: "Omelete dolorido. Uhhhhh". Não deu dois minutos, o primeiro curioso perguntou o que acontecera. Ao contar a história pra esse curioso, conclui: "É uma situação tão dolorida que não vale a pena nem ser relembrada”. O nick foi retiado e a dor foi gradativamente cessando.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
ELIANE BRUM E MATE FRIO
Para ler Olho da Rua, de Eliane Brum, merece um mate feito a capricho. Daqueles de cuia larga, espumado e com topete grande. Ao servir a primeira cuia, a certeza era de uma leitura regada com um mate quente no frio fim de outono encruzilhadense. Ledo engano. Durante a leitura, o mate, feito com tanto esmero, foi esquecido, recostado ao porta-cuia, junto à garrafa térmica. Isso, porque a leitura das dez reportagens foi espontânea, fluente. “Uma repórter em busca da vida real”, que conta histórias de pessoas ditas “comuns”. Já no prefácio, o conterrâneo Caco Barcelos promete: “Ela renasce e se recria a cada reportagem.”
Durante os textos, Eliane repete as expressões “dia comum”, “pessoa comum”. Ao mesmo tempo, consegue descrever cotidianos fantásticos, como aqueles lá do “útero da floresta”: a eterna luta entre brancos e índios; as parteiras que contestam os médicos; a busca desenfreada pelo ouro. Todas elas acompanhadas de comentários que contam os bastidores que ensinam muito de outro cotidiano - o de repórter. É essa, talvez, a melhor parte do livro. Trazendo os ensinamentos e as sensações da jornalista durante cada reportagem. O verde da floresta fazia lembrar o chimarrão, que esfriava ao lado.
O mate frio foi tomado rapidamente para servir outro (quente) e, assim, acompanhar o próximo capítulo. A casa de velhos foi uma das melhores reportagens, porque nela, rir e chorar são emoções quase incontroláveis. Ao contar a vida de moradores da Casa São Luiz para a Velhice, autora é fiel aos detalhes. Esses detalhes nos remetem às perguntas “quem somos?”; “de onde viemos?” e “para onde vamos?”. Velhos com histórias diferentes que acabaram num mesmo lugar. Um asilo. Lá, segundo Eliane, um cotidiano variado, composto de angústias e medos, mas também de alegrias e namoros na terceira idade.
Em O homem estatística, Hustene Alves Pereira ilustra um outro tipo de pobre. Ele sentiu as pequenas conquistas de uma vida dura escorrerem entre os dedos. Um texto magnífico. Mas o que mais impressiona é o comentário dele. É lá que Eliane Brum revela duas coisas: a habilidade jornalística e a proximidade com suas fontes. “Fui encarregada de fazer uma reportagem sobre pobreza. Comecei a pensar no que poderia dizer que já não houvesse dito”, conta a autora. Para chegar ao resultado, ela dá a receita na página 240. “Acredito que as melhores reportagens são resultados de uma pauta que se complicou”. Encontrou Hustene e, a exemplo do primeiro livro, novamente viu a vida que ninguém vê. A relação com Hustene e a família foi muito além da reportagem. “Nas noites de plantão, sozinho, me ligava”, afirma ela.
Ver o que ninguém vê em Olho da rua não foi exclusividade de Eliane Brum. As fotos, conforme a própria autora, é um dos complementos do livro. Na página 74, ela confessa: “Ele (fotógrafo) capaz de perceber delicadeza até nas pedras, via o que eu não enxergava”. A fidelidade da foto é parecida com a fidelidade do texto. Em vários momentos ela reafirma sua honestidade com a(s) fonte(s). Para Eliane, é apenas “a possibilidade de reafirmar a vida possível”. Mais um mate esfria na cuia. Somente ao fim de cada capítulo, é possível tomar o intragável mate frio e encher a cuia de novo, na esperança de um chimarrão quente.
Contar uma história em primeira pessoa foi um ponto questionado pela própria repórter em O inimigo sou eu. Mais uma vez, Eliane Brum mostra sua principal característica: fidelidade ao fato, às sensações vividas por ela mesma. A escolha pela primeira pessoa foi justifica no fim do livro: “Percebo o que é essencial na hora em que acontece”, explica. Já no início, as parteiras da Amazônia já falavam sobre o tempo das coisas. Eliane encarna a própria parteira Juliana Magave de Souza e diz que a reportagem deve ser preferencialmente de parto normal, escutando, prestando atenção a cada gesto, trajeto e passar tudo isso para o papel. “Foi quase uma psicografia de gente viva”, diz na página 38. Eliane Brum complica a pauta, muda e (re)constrói conceitos de Jornalismo. Vai além de “reafirmar a vida possível”. Ela testemunha a morte de Ailce de Oliveira Souza. Isso faz com que qualquer pessoa se surpreenda com seu texto e, que qualquer autoridade assine em baixo. Como uma repórter pode ver o que ninguém vê? Mágica? Sorte?
Quando o jogador de futebol Paulo Roberto Falcão chegou à Itália, na década de 80, disseram a ele que o seu futuro time, o Roma, não tinha sorte. Assim como Eliane Brum, ele também desconstruiu conceitos. Disse que sorte e azar não existem no futebol. O que existe é competência e incompetência. No jornalismo também é a assim. Em meio a discussões sobre a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, a competência deve ser o diferencial para ter garantia no mercado de trabalho. Um trabalho bem apurado e fiel aos fatos sempre terá lugar no bom jornalismo. Como faz Eliane Brum em Olho da rua, retratando pessoas comuns com uma competência venerável. Assim, ela ganhou quase 40 prêmios e foi a responsável por esfriar várias cuias de chimarrão Brasil a fora.
Durante os textos, Eliane repete as expressões “dia comum”, “pessoa comum”. Ao mesmo tempo, consegue descrever cotidianos fantásticos, como aqueles lá do “útero da floresta”: a eterna luta entre brancos e índios; as parteiras que contestam os médicos; a busca desenfreada pelo ouro. Todas elas acompanhadas de comentários que contam os bastidores que ensinam muito de outro cotidiano - o de repórter. É essa, talvez, a melhor parte do livro. Trazendo os ensinamentos e as sensações da jornalista durante cada reportagem. O verde da floresta fazia lembrar o chimarrão, que esfriava ao lado.
O mate frio foi tomado rapidamente para servir outro (quente) e, assim, acompanhar o próximo capítulo. A casa de velhos foi uma das melhores reportagens, porque nela, rir e chorar são emoções quase incontroláveis. Ao contar a vida de moradores da Casa São Luiz para a Velhice, autora é fiel aos detalhes. Esses detalhes nos remetem às perguntas “quem somos?”; “de onde viemos?” e “para onde vamos?”. Velhos com histórias diferentes que acabaram num mesmo lugar. Um asilo. Lá, segundo Eliane, um cotidiano variado, composto de angústias e medos, mas também de alegrias e namoros na terceira idade.
Em O homem estatística, Hustene Alves Pereira ilustra um outro tipo de pobre. Ele sentiu as pequenas conquistas de uma vida dura escorrerem entre os dedos. Um texto magnífico. Mas o que mais impressiona é o comentário dele. É lá que Eliane Brum revela duas coisas: a habilidade jornalística e a proximidade com suas fontes. “Fui encarregada de fazer uma reportagem sobre pobreza. Comecei a pensar no que poderia dizer que já não houvesse dito”, conta a autora. Para chegar ao resultado, ela dá a receita na página 240. “Acredito que as melhores reportagens são resultados de uma pauta que se complicou”. Encontrou Hustene e, a exemplo do primeiro livro, novamente viu a vida que ninguém vê. A relação com Hustene e a família foi muito além da reportagem. “Nas noites de plantão, sozinho, me ligava”, afirma ela.
Ver o que ninguém vê em Olho da rua não foi exclusividade de Eliane Brum. As fotos, conforme a própria autora, é um dos complementos do livro. Na página 74, ela confessa: “Ele (fotógrafo) capaz de perceber delicadeza até nas pedras, via o que eu não enxergava”. A fidelidade da foto é parecida com a fidelidade do texto. Em vários momentos ela reafirma sua honestidade com a(s) fonte(s). Para Eliane, é apenas “a possibilidade de reafirmar a vida possível”. Mais um mate esfria na cuia. Somente ao fim de cada capítulo, é possível tomar o intragável mate frio e encher a cuia de novo, na esperança de um chimarrão quente.
Contar uma história em primeira pessoa foi um ponto questionado pela própria repórter em O inimigo sou eu. Mais uma vez, Eliane Brum mostra sua principal característica: fidelidade ao fato, às sensações vividas por ela mesma. A escolha pela primeira pessoa foi justifica no fim do livro: “Percebo o que é essencial na hora em que acontece”, explica. Já no início, as parteiras da Amazônia já falavam sobre o tempo das coisas. Eliane encarna a própria parteira Juliana Magave de Souza e diz que a reportagem deve ser preferencialmente de parto normal, escutando, prestando atenção a cada gesto, trajeto e passar tudo isso para o papel. “Foi quase uma psicografia de gente viva”, diz na página 38. Eliane Brum complica a pauta, muda e (re)constrói conceitos de Jornalismo. Vai além de “reafirmar a vida possível”. Ela testemunha a morte de Ailce de Oliveira Souza. Isso faz com que qualquer pessoa se surpreenda com seu texto e, que qualquer autoridade assine em baixo. Como uma repórter pode ver o que ninguém vê? Mágica? Sorte?
Quando o jogador de futebol Paulo Roberto Falcão chegou à Itália, na década de 80, disseram a ele que o seu futuro time, o Roma, não tinha sorte. Assim como Eliane Brum, ele também desconstruiu conceitos. Disse que sorte e azar não existem no futebol. O que existe é competência e incompetência. No jornalismo também é a assim. Em meio a discussões sobre a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, a competência deve ser o diferencial para ter garantia no mercado de trabalho. Um trabalho bem apurado e fiel aos fatos sempre terá lugar no bom jornalismo. Como faz Eliane Brum em Olho da rua, retratando pessoas comuns com uma competência venerável. Assim, ela ganhou quase 40 prêmios e foi a responsável por esfriar várias cuias de chimarrão Brasil a fora.
Assinar:
Postagens (Atom)