quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A METAMORFOSE DOS PRESENTES E DOS MENINOS

No meu tempo de piá, gostava dessa época do ano porque eu curtia os presentes de Natal. Bicicleta, bola de futebol eram os mais frequentes. Quando não estava "bicicleteando" pelas ruas de Encruzilhada ou jogando futebol com a bola nova, estava empuleirado numa árvore com amigos ou no muro do vizinho. Não raras eram as vezes que, num quente início de janeiro, estava correndo após apertar uma campainha.

Não havia internet. Videogame eram para poucos. Na verdade, eu sempre preferi presentes que eu pudesse usar na rua. Até mesmo os carrinhos, empurrava na calçada e não dentro de casa. Lembro de um caminhão-cegonha, que ganhei uma vez. Era um Scania verde metálico, de quase um metro de comprimento. Ele carregava outros 12 carrinhos (seis em cima e mais seis na parte debaixo). Pelo menos duas vezes por dia dava uma volta na quadra para exibir meu caminhão.

Outro presente de Natal muito marcante foi uma Fórmula-1 movida a pedal. Aquela Lótus preta e dourada que Ayrton Senna guiou nos anos 80. O meio-fio era a zebra; os buracos e imperfeições eram os adversários a serem ultrapassados. O barulho do motor era produzido com a boca. O pit-stop é a entrada de qualquer garagem da ruas Tomás Flores ou General Osório. Que tempo bom!

Os presentes mudaram. As bicicletas foram trocadas por tablets. A maioria das bolas de futebol também. Jogos eletrônicos tomaram o lugar da divertida sacanagem da campainha. Meninos não sobem em árvores; nem em muros. Poucos ainda têm o futebol como atividade física. A rotina dos guris também mudou.

Esses dias, um menininho na rua contava radiante a um amigo: "Ganhei uma bicicleta!!!", exclamava o pequeno. Meu pensamento foi de alívio. Nem tudo estaria perdido. Me via naquele gurizinho, aproveitando uma noite quente de janeiro para "bicicleteando", com o cabelo ao vento (sim, um dia eu tive cabelo) pelas ruas de Encruzilhada.

Pois é. Mais tarde, soube que a bicicleta era elétrica. Daquelas que a gente aperta num botão e não faz mais nada além de guiar o (quase) veículo.

As noites quentes de janeiro não são mais as mesmas; nem os presentes; nem os hábitos de meninos; nem os meninos.

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