terça-feira, 19 de junho de 2012

A APOSTA


Seu Devercino Lima garante que fundou a bocha em Vera Cruz. Diz ele, que achou o esporte muito bonito na cidade vizinha de Candelária e resolveu implantá-lo numa casa de comércio no interior de Vera Cruz. Foi estudando a bocha e aprendeu. Foi se aperfeiçoando até virar um craque. Sim, seu Devercino conta que era um craque. Coisa como o Neymar da bocha.

Certo dia, seu Devercino atravessa a região em busca de mantimentos para sua casa comercial. Era uma manhã calorenta e resolveu descansar à sombra de um pinho. Ele desceu da Kombi branca e sentou perto das raízes, encostado no tronco. Quando colocou o chapéu no rosto, ouviu um barulho distante. Aquelas trovoadas eram inconfundíveis. Estava ocorrendo um jogo de bocha, num bar perto dali.

O comerciante desistiu do descanso e foi procurar onde era o jogo. Mas quando chegou, o jogo já havia acabado. Então ficou brincando com as bochas, e dando uma pequena mostra de sua habilidade com a bocha, que, naquela época eram de madeira. Um senhor que havia jogado há pouco, viu o que seu Devercino fazia com as bochas e lascou um elogio, meio bonachão.

- Mas tu até sabe jogar, tchê!

Devercino acenou com a cabeça para agradecer e seguiu mexendo nas bochas. Foi então que decidiu fazer uma aposta com os jogadores e frequentadores daquele bar. Postou duas bochas, uma ao lado da outra, com o espaçamento de 15 centímetros entre elas. No meio, foi o piquinho (aquela bocha menor). Todos olhavam o que seu Devercino faria.

- Eu vou dar três tiros só no piquinho e aposto R$ 5 por cada tiro - anunciou.

Depois de alguns minutos de alvoroço e desconfiança, a aposta foi feita. O craque deu o primeiro tiro e errou. Deu o segundo e também errou. Já devia R$ 10 e começaram algumas risadas e desdenhos à beira da cancha. Devercino atirou a terceira bocha e... errou de novo. Mas era tudo parte do plano.

- Tá bem. Quero mais três tiros. Mas agora, valendo R$ 50 por cada tiro.


Ninguém deu atenção a Devrvercino. Mas ele insistiu. Foi lá na Kombi e assinou um cheque no valor de R$ 150. O pessoal finalmente aceitou e "casou" mais R$ 150. Devercino deu mais três tiros. Três acertos. R$ 150 no bolso. Seu Devercino conta  que quis aumentar a aposta para R$ 500 o tiro.

O apostador foi corrido do bar. Assim conta seu Devercino, hoje taxista, com 74 anos.






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