Não era o caso da minha dupla. Éramos dois franzinos e nossas tacadas iam, no máximo, a cinqüenta metros da base. Mas até que nos dávamos bem, apesar de pequenos. Os pontos custavam a sair, porém, ganhávamos várias partidas. Jogávamos todos os dias, quase toda hora. De manhã, de tarde (antes da aula), na hora do recreio e depois da saída do colégio. Haviam vários lugares pra prática do Tacobol: Na Feira do Produtor, no colégio, na rua - bem em frente a minha casa, entre outros.
Uma vez, eu e meu parceiro voltávamos do colégio com os tacos no ombro e a bolinha no bolso quando dois guris, um pouco mais velhos e bem mais fortes nos desafiaram: "Querem uma partidinha na Feira do Produtor? Ou as maricas tem medo?". Nos olhamos, sem saber o que responder. Não podíamos passar por maricas, mas certamente perderíamos a partida pra eles. Eram maiores, mais e fortes e com caras de mau. Topamos. No trajeto do campo de batalha, as intimidações eram de dar medo: "Será que esses guris tem nave pra buscar a bolinha na lua?" ou "Vai ser fácil... só duas tacadas e termina esse joguinho."
Sorteamos quem sairia nos tacos no tradicional "seco ou molhado", cuspindo em um dos lados do taco (quem jogou taco, sabe: é tipo um par ou ímpar). Os brutamontes saíram rebatendo; nós lançando. O primeiro lançamento resultou nua rebatida certeira. Fui buscar a bolinha na esquina da Praça Dr. Ozy Teixeira, há quase oitenta metros. Eles 11 X 0 Nós. No próximo lançamento, outra rebatida. Mas essa não foi tão forte e deu pra agarrar a bolinha no ar. "Tempelasduas!". Recuperamos os tacos, mas com medo de que os brutamontes nos fizessem alguma sacanagem. Com nossas rebatidas tímidas, conseguimos encostar no placar.
Quando tudo ia bem, tivemos que entregar os tacos pela terceira bola pra trás. "Agora esses franguinhos vão ver!", disse um deles. O sentimento de derrota era bem mais forte, mas agora estávamos mais confiantes e arriscamos alguns truques, como enganador o rebatedor com uma pedra para que tire o taco do buraco. Deu certo. Derrubei a latinha e retomamos os tacos. Um deles, certo de que iriam recuperar os tacos e ganhar a partida, lançou uma bola quicando (é o maior pecado de quem lança, pois facilita a tacada). Foi a melhor rebatida da minha vida. A bolinha se perdeu e ganhamos! Os brutamontes tinham caras de mau, botavam medo, mas foram leais. Nos parabenizaram pela vitória.
Lembrando desta feita, resolvi ensinar as técnicas do Tacobol ao meu sobrinho, de dez anos. Aprendendo a jogar com os mais velhos, já teria o atalho das regras e das malandragens do esporte. Produzi alguns tacos, comprei a bolinha e improvisei as "latinhas" com duas garrafas pet. Mas onde jogar? Na minha antiga casa, não havia mais saibro (a rua foi calçada); a cancha do colégio não existe mais; a Feira do Produtor foi coberta por estrutura de madeira. Rodamos por vários pontos da cidade atrás de um lugar pra passar adiante a tradição do beisebol gaúcho. Só no Parque de exposições achamos uma cancha mais ou menos boa. Chegando lá, a primeira palavra foi "tempelasduas!". Intrigado, o guri pergunta: "Tio, o que é isso que tu falou?".
Respondi com toda a calma de tio: "'tempeladuas' significa 'tempo pelas duas casinhas'. Sabe que um dia eu dei a maior tacada da minha vida?Foi a tacada perfeita! Década de 90. Mais precisamente, novembro de 1994. A diversão da gurizada daquela época era o jogo de taco..."
huahuauhauhahuuh cara, isso me lembra tanta coisa... bah, jogar taco chegava a ser mais disputado que nossos campeonatos de futebol valendo refri. Parabéns pelo texto (e pela memória, "tempelasduas")
ResponderExcluirAdorei Urgel! Acho que a nossa geração foi a geração do jogo de taco nas ruas! Não vejo mais isso em lugar nenhum!
ResponderExcluirTu parece um velho de 80 anos falando, naquela época...hasuashsausah
ResponderExcluirMuito bom Urgel.Como é bom relembrar a infância.Eu nunca joguei taco, mas jogava muito futebol na rua em frente minha casa.Juntava toda a gurizada do bairro.Rua de saibro, eu jogava com um tenis velho e quase sempre saia com um joelho arranhado ou o tênis furado.Tínhamos que parar todo o jogo quando passava carro na rua.Pior era quando caia no pátio dos vizinhos, aí era uma aventura para recuperar.
ResponderExcluirParabéns.Muito bom o texto.
Pois é, o jogo de taco foi e é presente até hoje, na rua Olga Noronha, quem passa ali vê a gurizada jogando, nas vilas tbm não é dificil se ver...
ResponderExcluirGuardo até hj meus dois tacos, o certeiro e o matador, o certeiro tem cerca de 12 cm de largura por 1m de comprimento, espeçura de uns 3 cm, taco pesado, mas se acerta a tacada com facilidade, o matador é redondo feito de cabo de uma enchada, péssimo pq dá muitas bolas para trás, mas quando acerta acaba o jogo.