domingo, 3 de outubro de 2010

O SEQUESTRO DA URNA

Pra quem não sabe, os detentos sem condenação definitiva podem votar. Isso, só se as urnas forem até eles. Pensando nisso, um juiz eleitoral resolveu transferir uma seção eleitoral para dentro do presídio. "Os presos precisam exercer a cidadania", justificava o juiz.

Mas o pessoal que votava naquela seção não gostou muito da decisão. "Como assim? vou votar num presídio?" - se perguntava uma senhora. Alguns até pensaram em justificar a ausência justamente por serem obrigados a votar num ambiente considerado hostil. Mesários também não queriam trabalhar.

Bom. Gostando ou não o pessoal tinha que cumprir a ordem judicial. No dia da eleição, o movimento era grande, dentro e fora do presídio. Os burburinhos corriam soltos. Uns com medo de algum imprevisto. Era uma votação inusitada.

Tudo corria bem até 40 minutos antes do fim do processo eleitoral. Um dos apenados desconectou os cabos da urna e, rapidamente carregou o aparelho até uma salinha ao lado. Alguns mesários correram atrás dele e quando lá chegaram ele já tinha retirado o disquete que continha os votos daquela seção e estava prestes a atirar a urna pela janela.

"Não se aproximem! Eu atiro essa porcaria pela janela!" - alertava ele, que também considerava sua prisão injusta. Chegaram os policiais, apontando suas pistolas para o amotinado solitário. "Largue a urna!", ordenava um deles. Enquanto isso, o Tribunal Regional Eleitoral era acionado para a substituição do aparelho de votação.

Os policiais tentavam convencer o rebelde a desistir do sequestro da urna, argumentando que aquilo não tinha o menor cabimento, que o ato só atrapalhava o processo de votação. Mas o preso rebelde não dava trégua. "Tu tá me dizendo que os votos desta urna não valem nada? Eu exijo que me libertem daqui. Ou eu arrebento com essa urna"

Os sentinelas da urna pensaram na importância daqueles votos e se entreolharam. Mas sabiam que os dados estavam no disquete. Um deles, ria daquela situação ridícula e, assim, debochando do rebelde, se aproximou."Então atira isso pela janela, que eu quero ver!"

O preso sabia que a estratégia de destruir a urna não adiantaria. Então, largou a urna no chão e puxou da cueca o disquete que continha os 146 votos daquela seção. Colocou o objeto na boca e continuou: "Se vocês não me atenderem, eu destruo esses votos!"

O policial que estava próximo perdeu a paciência. Agarrou o amotinado e o prendeu novamente. O disquete foi mordido e destruído. O preso voltou pra cadeia. Os votos foram perdidos. A notícia rapidamente se espalhou. A senhora revoltada com a decisão do juiz, logo comentou: "Meu voto não vale nada mesmo."

O juiz eleitoral voltou atrás e restabeleceu a seção eleitoral para a escola mais próxima do presídio. Nesse caso, se Maomé não for à montanha, a montanha não vai precisar se deslocar.

3 comentários:

  1. ...ai inventaram o tal de backup!!!! Bom texto Urgel...abraços! Brixner

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  2. Por isso que voto NULO!!!

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  3. De onde tu tira essas ideias? Acabo sempre viajando nelas! Muito bom!

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